Por DIEGO MÜLLER

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

A dança e o gauchismo...



Seguido abro no face fotos de danças, de grupos se apresentando, com momentos "mágicos" captados por fotógrafos profissionais. Porém muita coisa me chama atenção e me faz contestar muito sobre os rumos de nossas danças... não falo nada em sentidos de indumentárias, tipologia de "estilos", danças em si, etc... falo em personalidade e rumos "gauchamente" falando! Porque? Porque quase em todas essas fotos os peões estão se "arreganhando" rindo e sorrindo... mas pensa em "sorrindo"!

Onde quero chegar e me perguntar, no fim?

Imagino, nessa conclusão observatória, de que, de certo, era uma "maravilha" viver no tempo em que as danças (essas) existiam! Todos vivem e dançam alegres, com toda felicidade do mundo estampada na cara!

Nossas danças se iniciaram no RS a partir de 1617, quando os primeiros açorianos pisaram em nossa terra sulina (para ocupar um território missioneiro, de onde seriam tirados os índios e entregue a eles). Aí se iniciou nossa sociedade, nossos "bailes" e um motivo pra se dançar com "prendas". Porém as "maravilhas" sulinas não eram maravilhas. Os açorianos se restringiram ao litoral gaúcho (e catarinense), tendo por outro lado um forte avanço espanhol... e no meio guaranys e changueadores. Onde estava essa felicidade estampada no olhar do nosso homem do sul?

A posterior vieram os alemães, não recebendo terras e as promessas que se destinaram a eles. Se ocuparam de beiras de rios e encostas de morros, tendo que abrir picadas, derrubar matarias e criar suas colonias e plantações. Sem contar, bem depois, as vindas dos fugitivos das duas grandes guerras, onde as danças (de quarta gerações) já estavam se diminuindo... dando espaço para as danças enlaçadas, ditas de salão.

Com os Italianos o mesmo... tendo de abrir espaço já no mais alo dos morros, plantando suas colonias com garra em lugares nunca antes pensado em ser desbravado e colonizado... plantando e colhendo... e, por muito, também fugitivos dos confrontos europeus sempre ativos por lá!

Nossas danças e nossa cultura GAÚCHA (entende-se gaúcho no sentido original da palavra, e não como residentes e oriundos de determinado estado) é extremamente e unicamente rural... onde o trabalho não é para qualquer um e onde se identifica uma tipologia única, bem formada e montada pelo ligar onde vivem, com ligações fortes com a terra, a rudeza, a aspereza, a brutalidade, a falta de medo, e etc. Pessoas com calos nas mãos, com contato diário com rédeas, esporas, tentos, bocais, buçais, guitarras, fogo de chão, pais-de-fogos, picumãs... geralmente pessoas com olhar sisudo e quieto, gritando quando necessário, sabendo onde pisa e com quem anda, não se achicando para qualquer um, sempre peleador e de convicção no que lhe agrada... e porque não citar dos vícios, do "baio" (palheiro), da canha, de guitarras e cordeonas, e de bolichos e pulperias.



Alegria? Pode ser que sim... mas esse sorriso das fotos? Acho que nunca!

E quem disse que dança gaúcha é por consequência GERAL uma conquista entre homem e mulher? Porque ela não pode ser tratada como CULTO (como muito se fala na Argentina e no Uruguai)? Porque não cultuar nossas danças, em vez de tentar viver em um mundo de conto de fadas que nunca existiu, criando um personagem que nunca frequentou nossos planos e nossas serras?

(Hoje em dia daria risada de alguma conquista amorosa, se ela fosse tentada com um olhar e um "sorriso" desses! Imagina dentro de um ambiente rural e antigo!)

Não conseguimos acreditar em um meio (ou "movimento", independente do título) que crê que a cara deva mostrar o que ele estaria sentindo ao invés de sentir, por sim. Num meio onde "teatro" é mais importante que o gaúcho em si. Que se diz que tipo de rosto, cara, sentimento se deva ter em cada momento, ao invés de realmente se dançar com alma, sentir e transparecer isso a todos!

Em resumo: creio (como conversado no rodeio da Criúva com um amigo antigo, o Marcio Oliveira) de que há muito "peão de boate" em nossas danças, ao invés de se criar, se investor e de tornar nossos dançarinos mais do que isso... falta criarmos GAÚCHOS! Muitos não conseguem parar para olhar os grupos atuais nos palcos por não terem nada mais do que harmonia a acrescentar (nada mais do que qualquer grupo fora do tradicionalismo não tenha). Falta ensinarmos a eles quem fomos, como se trabalhava no campo, como é um gaúcho, como se fala no campo, de onde viemos e de como devemos ser! Falta personalidade sulina e gente gaúcha em nossas danças. Muito mais do que dança é o que temos que ter necessidade. Muito mais do que passos é o que nos acrescenta. harmonia e passos estudamos, olhamos,ensaiamos e temos! E o resto? E o que nos falta?

De certo... só pode ter sido maravilhosa a vida no sul entre 1600 e 1950, tendo nesse meio invasões, guerras, revoluções farroupilhas, revoluções civis, duas guerras mundiais, terras a ser desbravadas, ranchos de torrão, postos, estâncias gigantescas, sesmarias, tropeadas, tropeiros, mulas, cargueiros, e tanto mais!



Falta olhar gaúcho nos nossos jovens!

Falta ser do sul!
Falta culto!

Ainda bem que os meus me ensinaram diferente!

Abraços, Diego Muller


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"La vida és uma milonga... y hay que saberla bailar!"

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