Por DIEGO MÜLLER

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Canção do dia...





Canção do dia de sempre

Tão bom viver dia a dia...
A vida assim, jamais cansa...

Viver tão só de momentos
Como estas nuvens no céu...
E só ganhar, toda a vida,
Inexperiência... esperança...

E a rosa louca dos ventos
Presa à copa do chapéu.
Nunca dês um nome a um rio:
Sempre é outro rio a passar.

Nada jamais continua,
Tudo vai recomeçar!

E sem nenhuma lembrança
Das outras vezes perdidas,
Atiro a rosa do sonho
Nas tuas mãos distraídas...


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Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto;
alimentam-se um instante em cada
par de mãos e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...

Nasci em Alegrete, em 30 de julho de 1906. Creio que foi a principal coisa que me aconteceu. E agora pedem-me que fale sobre mim mesmo. Bem! Eu sempre achei que toda confissão não transfigurada pela arte é indecente. Minha vida está nos meus poemas, meus poemas são eu mesmo, nunca escrevi uma vírgula que não fosse uma confissão. Ah! mas o que querem são detalhes, cruezas, fofocas... Aí vai! Estou com 78 anos, mas sem idade. Idades só há duas: ou se está vivo ou morto. Neste último caso é idade demais, pois foi-nos prometida a Eternidade.

Nasci no rigor do inverno, temperatura: 1 grau; e ainda por cima prematuramente, o que me deixava meio complexado, pois achava que não estava pronto. Até que um dia descobri que alguém tão completo como Winston Churchill nascera prematuro - o mesmo tendo acontecido a sir Isaac Newton! Excusez du peu... Prefiro citar a opinião dos outros sobre mim. Dizem que sou modesto. Pelo contrário, sou tão orgulhoso que acho que nunca escrevi algo à minha altura. Porque poesia é insatisfação, um anseio de auto-superação. Um poeta satisfeito não satisfaz. Dizem que sou tímido. Nada disso! sou é caladão, introspectivo. Não sei porque sujeitam os introvertidos a tratamentos. Só por não poderem ser chatos como os outros?

Exatamente por execrar a chatice, a longuidão, é que eu adoro a síntese. Outro elemento da poesia é a busca da forma (não da fôrma), a dosagem das palavras. Talvez concorra para esse meu cuidado o fato de ter sido prático de farmácia durante cinco anos. Note-se que é o mesmo caso de Carlos Drummond de Andrade, de Alberto de Oliveira, de Érico Veríssimo - que bem sabem (ou souberam) o que é a luta amorosa com as palavras.



Quando eu for, um dia desses,
Poeira ou folha levada
No vento da madrugada,
Serei um pouco do nada
Invisível, delicioso

Que faz com que o teu ar
Pareça mais um olhar,
Suave mistério amoroso,
Cidade de meu andar
(Deste já tão longo andar!)

E talvez de meu repouso...


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"O verdadeiro analfabeto é aquele que sabe ler, mas não lê!..."

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

João de barro...




João de Barro
(Maria Gadu)

O meu desafio é andar sozinho
Esperar no tempo os nossos destinos
Não olhar pra trás, esperar a paz
O que me traz
A ausência do seu olhar
Traz nas asas um novo dia

Me ensina a caminhar
Mesmo eu sendo menino aprendi
Oh meu Deus me traz de volta essa menina
Porque tudo que eu tenho é o seu amor
João de Barro eu te entendo agora
Por favor me ensine como guardar meu amor

O meu desafio é andar sozinho
Esperar no tempo os nossos destinos
Não olhar pra trás, esperar a paz
O que me traz
A ausência do seu olhar
Traz nas asas um novo dia
Me ensina a caminhar
Mesmo eu sendo menino aprendi

Oh meu Deus me traz de volta essa menina
Porque tudo que eu tenho é o seu amor
João de Barro eu te entendo agora
Por favor me ensine como guardar meu amor

Oh meu Deus me traz de volta essa menina
Porque tudo que eu tenho é o seu amor
João de Barro eu te entendo agora
Por favor me ensine como guardar meu amor

Oh meu Deus me traz de volta essa menina
Porque tudo que eu tenho é o seu amor
João de Barro eu te entendo agora
Por favor me ensine como guardar meu amor
meu amor
 

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 João de barro
(El hornero)
 
O joão-de-barro ou forneiro (Furnarius rufus) é uma ave Passeriforme da família Furnariidae. É conhecido por seu característico ninho de barro em forma de forno (característica compartilhada com muitas espécies dessa família). É a ave símbolo da Argentina, onde é chamado de hornero ("Ave de la Patria" - desde 1928).


Possui o dorso inteiramente marrom avermelhado (por isso o epiteto específico rufus). Apresenta uma suave sobrancelha, formada por penas mais claras, em leve contraste com o restante da plumagem da cabeça. Rêmiges primárias (penas de voo, nas asas) anegradas, visíveis em vôo, com as asas abertas. Ventralmente é de coloração mais clara. Tem cerca de 20 cm de comprimento e não apresenta dimorfismo sexual evidente, mas sua plumagem pode mostrar variações regionais; no sul da Argentina tende a ter um tom mais pálido e acinzentado; no Piauí e Bahia as cores são mais fortes, mais avermelhado no dorso e mais escuro e ocre no ventre. Também seu tamanho pode variar, sendo em geral as populações do sul ligeiramente maiores que as do norte.




O joão-de-barro é um pássaro muito popular, tanto que foi escolhido como a ave nacional da Argentina. Faz parte do folclore de várias regiões, sendo personagem de lendas. Uma delas diz que o macho pode encerrar uma fêmea infiel no ninho até que ela morra, o que nunca foi comprovado; Outra diz que ele constroi seu ninho com a abertura na direção oposta do vento e da chuva, mas as pesquisas realizadas apresentam resultados contraditórios. Também é dito que ele é um pássaro religioso, pois suspende a construção do ninho aos domingos e dias santos. Isso tampouco tem comprovação científica. Em algumas regiões interioranas seus ninhos vazios se tornam objetos de decoração doméstica.


Seu canto, junto com o de outros pássaros, foi uma inspiração para o compositor erudito Olivier Messiaen. Foi protagonista do livro infantil O Armário do João de Barro, de Christina Dias; deu seu nome a um projeto do governo brasileiro de construção de casas populares no interior, especialmente no Nordeste; foi tema de uma poesia de Cassiano Ricardo, é um motivo constante na obra do pintor José Antônio da Silva e foi cantado na conhecida toadacaipira João de barro, de Teddy Vieira e Muibo César Cury. A artista Celeida Tostes utilizou seus ninhos para a criação de uma instalação apresentada na Escola de Artes Visuais do Parque Lage em 1990. Além disso a ave já batizou uma plataforma criptográfica para a Autoridade Certificadora Raiz da Infra-estrutura de Chaves Públicas do Brasil uma ONG, um concurso nacional de literatura da prefeitura de Belo Horizonte, e um grande número de estabelecimentos comerciais, empresas, hotéis e escolas.


Em Sobradinho corre uma lenda de que a cidade foi fundada por um joão-de-barro, a quem ela também deve o nome, já que antigamente um viajante teria ali encontrado uma dessas aves a construir seu ninho, e ela, falando-lhe, disse que seria na forma de um "sobradinho", em memória das grandes casas de fazenda que um dia pontuavam a paisagem da região. Os indios avá guaraní assim explicam a origem do joão-de-barro: a jovem Kuairúi havia se enamorado de Tiantiá, um valoroso guerreiro. Queriam casar, mas o cacique Tabáire, pai de Kuairúi, não permitiu, porque a despeito de sua bravura Tiantiá não sabia construir uma cabana. Assim foram transformados em pássaros que ajudam um ao outro na construção do ninho.
 

 


João de barro
(Paixão Côrtes/Zé Bernardes)

João de barro quando canta no inverno e no verão
É sinal, é sinal de tempo bom
É sinal, é sinal de tempo bom
João de barro quando canta no inverno e no verão

João de barro faz o rancho com o bico e terra flor
Quando tem, quando tem, quando tem um grande amor
Diz a lenda, diz a lenda do rincão
João de barro foi um índio fazedor de habitação

A casinha do barreiro também serve de prisão
Quando tem, quando tem, quando tem um grande amor
Diz a lenda diz a lenda do rincão
Que ele prende a companheira que iludiu seu coração

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Joao de barro cuando canta en el invierno y en verano,
Es señal, es señal, que mejoró,
Es señal, es señal, que mejoró
Joao de barro cuando canta se ilumina la estación.

Joao de barro hace su rancho, con el pico, tierra y flor
Cuando es, cuando es es el tiempo del amor,
Su leyenda de niños nos contó, era un indio
Joao de barro cantarín y constructor.

La casita del barrero, también sirve de prisión,
Cuando es, cuando es, es el tiempo del amor,
Su leyenda de niños nos contó
Que guarda a su compañera, dentro de su corazón....

 
 
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  "As vezes nasceram para serem livres para poder voar e ir aonde quiserem!"
Autor: Desconhecido

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Quero-quero...






Nos brados de um quero-quero
(Diego Müller)
 
Se esvai a tarde, em lançante, redesenhando seus lumes,
Trazendo a d´alva de tiro, a mesclar-se aos vaga-lumes...
...Alma em brilhos veraneiros, contraponteando a mirada
Que se perde – allá, lo lejos – fitando onde vai a estrada!

E o mate se adoça aos poucos – salvo à flor da maçanilha –
Que colhi, por lembrar dela, nos repechos da coxilha...
E um quero-quero matreiro dá sinal de ovo no ninho,
Atiçando meus olhares – ante um silenciar sozinho!

Feito um alerta altivo, a denunciar – sentinela –
O que espreitam meus anseios, bombeando além da janela...
Onde a retina, insistente, se arrasta no entardecer,
Repetindo – dia-a-dia – as fisgadas de um bem-querer!

– Resquícios!... que aperta o peito, quando outra feita, em seu brado,
Anunciou – perante a estrada – que ela foi num sonho alado...
Como reclamando – inquieto – a falta da despedida,
Por endureceu seus prantos... inspirando a sua partida!

Ilusões dos corredores: de que partir é caminho!...
Ilusões dos sentimentos: de que nunca estou sozinho!...
...Há o canto – picaço-overo – a cuidar o seu condado,
Mas não vigiando meus rumos – que inda nega o já acabado!

...Por isso comparo a cena ao que o coração me alerta,
Que a saudade é um quero-quero nas guardas que me desperta:
Anunciando que o recuerdo chega, apontando à estrada,
Querendo o que se foi nela...  – Mirando! ...E não vendo nada!!!




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(L: Diego Muller/Binho Pires - M: Érlon Péricles - Gauderiada da canção-2012)

Quero-quero
ou abibe-do-sul (Portugal) 
[Vanellus chilensis (Molina, 1782)]

 Também conhecido por tetéu, téu-téu, terém-terém e espanta-boiada, é uma ave da ordem dos Charadriiformes, pertencendo a família dos Charadriidae. 
Em espanhol é conhecido por tero común ou teru-teru, e em inglês como southern lapwing. Ocorre em toda a América do Sul e em alguns pontos da América Central, e sendo uma ave muito popular acabou por fazer parte do folclore de várias regiões.

O quero-quero é uma ave de porte médio a pequeno, com 32 a 38 cm de comprimento[4] e 300 a 320 g de peso. Não há dimorfismo sexual. Quando adulto, ostenta esporões no ângulo das asas, usados como arma de ataque e defesa. Tem plumagem negra orlada de branco na testa e na garganta, e uma larga área negra no peito. Do topo da cabeça e lados do pescoço, até o dorso, é cinza, podendo ter um tom de marrom ou azul. As escápulas têm cor de bronze, as penas externas das asas passam dos tons acinzentados junto ao corpo até o branco, terminando em um azul-escuro quase negro. Por dentro as asas são brancas com extremidades do mesmo tom escuro. A cauda repete o mesmo padrão, mas possui uma fina faixa branca na extremidade. O abdômen é branco, a íris do olho é vermelha, o bico passa do vermelho ao negro na ponta, e as patas são avermelhadas. Tem um penacho fino de cor cinza ou negra na região posterior da cabeça. As subespécies apresentam como distinção ligeiras variações nessas características. Os recém-nascidos possuem uma penugem esparsa cinza-escuro ou castanha pintalgada de negro, já apresentando a típica mancha negra no peito, com o dorso do pescoço e o baixo ventre esbranquiçados. 


O quero-quero é comum em muitos países; é a ave-símbolo do Uruguai e do estado brasileiro do Rio Grande do Sul, e por isso em seu redor se formaram várias lendas, aparece em cantigas tradicionais e se tornou personagem literário e dramatúrgico. Também deu seu nome a produtos e estabelecimentos comerciais, projetos educativos e um grupo musical gauchesco. 


A título de exemplo de sua popularidade, aludindo ao seu papel de sentinela dos campos - pelo que é muito estimado pelos estancieiros e fazendeiros - cite-se Rui Barbosa, que em um discurso proferido em 1914 chamou a ave de "o chantecler dos potreiros. Este pássaro curioso, a que a natureza concedeu o penacho da garça real, o vôo do corvo e a laringe do gato, tem o dom de encher os descampados e sangas das macegas e canhadas com o grito estrídulo, rechinante, profundo, onde o gaúcho descobriu a fidelíssima onomatopéia que o batiza".No terreno folclórico, pode-se trazer à memória uma quadrinha brasileira, que reza:

"Quero-quero vai voando
e os esporões vai batendo...
Quero-quero quando grita
alguma coisa está vendo!"


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Canção da bonita
(Aureliano de Figueiredo Pinto)

Campeiro! ...Prepara o laço
No campo do teu amor.
É com a bonita? ...Pois, não!
Prepara o teu coração
Que é um alazão pisa-flor!

Campeiro! ...Esporeia o tino,

Afirma bem teu olhar,
Porque a bonita é matreira:
– De tua armada certeira
Talvez, se mande escapar!

Campeiro! ...Afirma os estribos,

Regula bem o teu braço,
Porque a bonita é aragana!
Quando gaúcho se engana
Errando o tiro de laço...

Campeiro! ...Ajeita teu pingo!

Ergue na rédea, caldeia!
Cuidado! Porque a bonita,
Com ares de tambeirita,
Larga o teu laço na areia!

Campeiro! ...Prepara o laço

No campo do teu amor...
Cuidado! A bonita é braba,
E a vida as vezes se acaba
P´ra um coração pisa-flor!!!...




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"Minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem de grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite!"
(Clarice Lispector)