Por DIEGO MÜLLER

quarta-feira, 4 de março de 2015

A interpretação na dança...


 
A INTERPRETAÇÃO
 
Interpretação é uma ação que consiste em estabelecer, simultânea ou consecutivamente, comunicação verbal ou não verbal entre duas entidades. É um termo ambíguo, tanto podendo referir-se ao processo quanto ao seu resultado – isto é, por exemplo, tanto ao conjunto de processos mentais que ocorrem num leitor quando interpreta um texto, quanto aos comentários que este poderá tecer depois de ter lido o texto. Pode, portanto, consistir na descoberta do sentido e significado de algo - geralmente, fruto da ação humana.

Hoje, a Dança, tem dado extrema importância para a interpretação na cena artística, pois a dança é arte, e a arte precisa ser sentida, e acredito que a dança apresenta este estado de realização, de inovação e contato, seja com o dançarino ou com o público.
 

Antigamente, nos grupos de danças gaúchas (e muitos ainda hoje inclusive), tornava-se comum assistir a um grupo regido de muita técnica, no que o olhar questiona a falta de expressividade, ou seja, de vida no movimento (corporal e facial – integrados também), que aqui podemos apresentar como uma ação inexplicável do movimento pelo movimento, isto é, a técnica pela técnica. O que faltava? Era o sentimento, a história desta dança que com o tempo foi percebendo o quão era importante interpretar enquanto desenvolve a técnica corporal. E começaram algumas questões entorno da dança, buscando compreender: os propósitos, o que a dança quer mostrar, que público quer atingir, quais os padrões estéticos criarem, as inovações dos recursos como complemento no trabalho do artista. Gosto muito de ouvir comentários de pessoas leigas na dança, pois mesmo sem entenderem de dança na maioria das vezes o bailarino preferido é aquele que cativa seu público de alguma maneira, que sente a música, que consegue demonstrar exatamente cada acorde, instrumento que a orquestra toca. O bom bailarino (ou o bom grupo) é aquele que consegue demonstrar cada suspiro, toque, musicalidade desse som que está sendo transmitido ao público, e consegue trazer a poesia interna para o olhar do público.
 

Interpretação é sentir, sentir é arte, se a dança não é interpretada ela não é denominada arte. Apresento uma forte afirmação sobre considerá-la não arte, a partir do viés de apresentar algo que transite entre dois importantes patamares: a técnica e a alma, ou seja, unir esses elemento a fim de viabilizar tanto ao artista quanto ao público a honestidade do trabalho, dada pelo intermédio da interpretação. Técnica já é e vem da mecânica... técnica é “técnica”! Por isso que INTERPRETAÇÃO não pode ser técnica... deva ser da alma, e só da alma! Sendo assim, e é pra ser assim: a interpretação gera expressão, que transforma em uma performance, ou seja, um momento íntimo do dançarino que é transparecido para e com o público. Dessa forma, a dança é como um jogo, o dançarino apresenta a sua intimidade para o público, quem ele realmente é e de onde ele veio e aprendeu... e o público recebe a informação, mas também devolve esse jogo, com o olhar, com o sentimento, com o aplauso, e torna parte do artista corresponder a esse estímulo.

Claro que não será do dia para a noite implantar essa visão nos instrutores, nos avaliadores (conseguindo deixar o dançarino tão bem mais a vontade para ser ele mesmo em palco)... é um trabalho de consciência dentro da própria dança.
 

Interpretação gera intérprete... intérprete passa... é o condutor. Se não conduzir, esta em baixa qualidade (ou errado)... se conduz erroneamente, a mesma baixa qualidade é identificada. As vezes até passa corretamente a interpretação do tema, porém o problema está em CAPTAR do mesmo coisas errôneas e detalhes desnecessários para se contar ao público (se me entendem). Dessa forma, na dança que realizamos, devemos buscar não faltar com a interpretação e com o sentimento em nenhum momento do trabalho, nos ensaios, nas apresentações, concursos e tudo mais. o dia que isso acontecer talvez seja a hora de rever os meus conceitos e pararmos. Se isso já acontece e se a interpretação deva ser mesmo vista de forma técnica, é hora de reiniciarmos nossos conceitos do zero.
A maior dificuldade que percebemos no alunato, nos profissionais instrutores e nos “avaliadores da nossa cultura” é a falta de expressividade presente no trabalho do bailarino. O que aqui apresento como expressividade é o casamento entre o sensível do artista e a técnica harmônica, articulando através da dança uma interpretação que poderíamos chamar de completa, onde o olhar caminha junto com o movimento e a música... e o público torna receptor desse acontecimento. Os dançarinos não se autoconhecem. São trancados, não se libertam e inventam “interpretações” forçadas e “não gaúchas”, caricatas (exagero também é um "erro" grave de interpretação) do nosso meio rural e crioulo. Há de fazer com que os dançarinos sejam eles mesmos, se autoconhecendo e tirando os movimentos da dança pelo sentimento. Há de se experimentar e viver as descobertas, os desafios, e principalmente, gerando sua própria vida no palco.

De forma técnica podemos separar a interpretação em três partes, abrangendo vários fatores. Algumas danças abrangem as três de forma altiva, já outras possuem uma hierarquia de cada qual em sua hist´ria e coreografia. Há de se saber identificar isso. Tentarei explicar:
 

01-INTERPRETAÇÃO LEITORA: Saber o que a música está dizendo é fundamental para que você tenha mais elementos para interpretá-la, afinal, não basta apenas fazer a leitura melódica da pessoa, mas também interpretar através dele, do olhar e de gestos (se a dança permitir) o que ele está dizendo para ajudar um público leigo a entender a ideia de sua dança ou coreografia.

02-INTERPRETAÇÃO MUSICAL: Outra maneira de interpretar é sobre a música. É entender as mudanças de humor da própria, suas dinâmicas e variações. Em um momento ela fica mais alegre, em outro mais melancólico, mais apaixonada, introspectiva, forte, devota, etc... principalmente a música instrumental. A música se comunica com a gente, e isso falta em nossas danças, e muito (por parte dos músicos mais ainda)... é como se fosse uma poesia, mas ao invés de palavras, o compositor utiliza-se de sons para compor os seus versos. Esse modo de interpretação consiste em compreender a música através de suas frases, identificando assim: ritmo, tempo, melodia, nuances (crescendo e diminuendo) e instrumentos (solo, acompanhamento e base). Então, só depois de feita a leitura da música mentalmente, podemos começar a desenvolver os movimentos em cima dela.

03-INTERPRETAÇÃO EXPRESSIVA: Tocando um pouco nos tópicos acima, de que adianta saber ler a música e interpretar seus humores se não há a capacidade de expressar? Aí entra a pergunta: “Interpretação e Expressar podem significar a mesma coisa?” Não. Nós podemos interpretar uma música e uma dança acompanhando o humor dela, utilizando-se apenas da leitura musical e coreográfica, colocando a nossa visão daquilo naquilo que estamos dançando. Mas é onde entra a expressividade da bailarina, aquele “je ne sais que” que faz com que a gente não tire os olhos dela, que faz a gente se emocionar, se arrepiar e muitas vezes até chorar. Há de sentir e saber passar, se autoconhecendo (o que pouco ocorre), conseguindo ter movimentos (faciais e/ou corporais) corretos, sentimentais e bonitos (belos), de auto padrão.
 

Bueno...

 Expressar significa sentir aquilo que se diz, e traduzir através de gestos e movimentos cada sentimento ou pensamento que envolve o humor da melodia. Sentir e passar. Não inventar e passar (lembrando que TEATRO e DANÇA são duas artes em separado... diferentes e sentidas de formas diferentes!).
Em resumo, o que mais vejo hoje em apresentações de dança é uma exibição de técnica sem fim, você vê leitura musical impecável , mas quando olha pro rosto do bailarino… é um sorriso de anúncio de pasta de dente colado na cara o tempo todo, cara de parede ou aquele carão de “eu sei que eu estou maravilhosa, perfeita, por que eu fiz aula com fulano, beltrano e cicr

ano”. A dança fica sem paixão, sem sentimento, é só exibição técnica (inclusive no rosto). De que adianta dizer que ama a dança, que é movida por música, se chega na hora de se comunicar com a melodia, não faz nada disso... e se parece estar em um palco de teatro em vez de um palco de dança? A dança sem expressão fica incompleta... incompreendida!
 


Deixo aqui, para finalizar esse texto, onde: É MUITO DIFÍCIL TERMOS UM GRUPO E UM DANÇARINO INTERPRETANDO DE MANEIRA REALMENTE RURAL A NOSSA DANÇA... PARECER SER DO CAMPO E DO MUNDO “DE FORA”. SE ISSO NÃO ACONTECE, É PORQUE REALMENTE É MUITO DIFÍCIL... E SE ALGUÉM REALIZA, É NÍVEL “HARD” DE INTERPRETAÇÃO, mesmo que deixe a desejar em outros quesitos (da própria interpretação). Somos crioulos e rurais (é isso que interpretamos e devemos passar). Somos de campo... gente feita da terra e do verde do horizonte. Somos crioulos e nascidos de uma pátria rude e difícil. Não confundam e não nos mintam!!!

Falta sermos nós mesmo em palco (e isso já aprendi em casa mesmo). Falta sermos quem aprendemos ser, darmos nossas risadas de baixo de palco em cima dele, nos movimentarmos em cima do tablado como fora dele, gesticularmos como nós mesmos... para INTERPRETARMOS corretamente e não de maneira “falsa”! Falta nos arrepiarmos com um simples toque de gaita do maçanico! Serei sempre o mesmo baixo e acima do tablado... por isso posso dizer, e acredito: SEI INTERPRETAR!
 

Viva a dança!...
...Viva apenas!
- Ela sabe o que fazer com o dançarino!!!


(Leiam, sem falta: ASPECTOS DA SOCIABILIDADE GAÚCHA, DANÇAS E ANDANÇAS e BAILES E GERAÇÕES - os três livros de João Carlos Paixão Côrtes que mais falam da gente, das danças e de como devemos ter em nossas ações de palco - mesmo, ensinam muito mais do que os livros de Coreografia em si. Não se enganem com o que sempre tivemos! Há mais que isso em nosso UNIVERSO!).

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"Ele a chama de menina e diz ser ela, bailarina que dança a vida colorida, revestida de esperança que sua rima o domina e seu sorriso, lhe fascina do Cupido, velho amigo, pega flecha e hábil lança!"
(Siomara Reis Teixeira)



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