Por DIEGO MÜLLER

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Cismas...



Cismado
(Diego Müller)

Porque saudade, se esta estrada eu nem compreendo?...
– Dela só entendo que por diante me carrega!...
Saudade eu tenho, mas não tanto para as cismas
Que me destina a peça que só as curvas prega!

Porque das cismas, se estas mesmas sempre tive?...
E me contive pra não refletir aos sonhos!...
De novo, as mesmas... repetidas – passo-a-passo –
Onde eu repasso seus porquês num céu risonho!

Cada ansiedade, desenhando o úçltimo dia...
Cada alegria, relembrada nas esperas...
Cada quimera, pondo dor nas melodias...
– E minha poesia, insistindo em vir tapera!

E eu que tenho tanto cruzado
Por calejado não aprendi...
Os mesmos rumos – de olhar cismado –
Onde cimbrado não sei mentir!

Cismo e assumo – de olhar nublado –
No tanto alado que eu me senti...
E eu que tenho tanto penado,
Ainda cismado, só penso em ti!

Porque saudade, se já avisto outro reencontro?...
E nela eu conto, pra estas cismas terem fim!...
– Nunca terão, mas compreendo o que me ensinarem:
Se elas findarem, restará só um “não”... ou o “sim”!

Porque das cismas, e até sei eu elas viriam?...
E me trariam mais o intento de cruzar!...
– Se até duvido das estradas que eu desperto,
Melhor o incerto... do que por ti nem tentar!

Cada lembrança, que salta sem pedir senha...
Cada resenha, que pensei em você comigo...
Cada perigo, que por mais que eu me contenha,
Deixe que venha... pois cessar cismas, não consigo!


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"hoje eu sei,
só a mudança é permantente...
de repente
tudo está no seu lugar!"


Se, hoje, sou um cara despreparado para a vida pública, imaginem no início da minha jornada! Não precisam abafar o riso pois eu mesmo me divirto com esta falta de preparo.
Eram tempos anteriores à www. A cada lançamento, este morador da província passava um ou dois dias num escritório, na corte, dando entrevistas para veículos de todo o país. Constrangido de repetir sempre as mesmas respostas, ingenuamente eu tentava dar um tratamento personalizado a cada entrevista. Não se tratava de mentir, é claro; eu só tentava jogar luz em novos detalhes. E são inúmeros os detalhes quando se fala de criação. Tudo ali é detalhe.
Agora, façam as contas: num país com 27 unidades federativas, digamos que (fazendo uma média por baixo) eu falasse com 3 revistas/jornais de cada estado: são 71 entrevistas. Se a primeira delas fosse linear e objetiva e, a cada uma, eu viajasse um pouco, na septuagésima primeira eu teria viajado um bocado! Na geografia e nas ideias.

(*)

Quando a MTV estava preparando sua entrada no Brasil, testando formatos, fui convidado a participar de um programa piloto. Um teste que nunca foi ao ar. Era umping pong com o convidado encostado num muro, o paredón.
Eles ainda estavam tateando o ambiente. O clima na emissora ainda era mais pra anos 70 do que 80. E estávamos em 1990! A maioria das perguntas tinha um tom de transgressão que já me soava passado na época. Chavões sobre sexo, drogas, roquenrrou, etc... o de sempre: prato feito para jovens por cozinheiros de meia idade.
Uma das perguntas nunca saiu da minha cabeça: “você começa a fazer a barba sempre do mesmo lado?”. Acho que eles julgavam ser um bom atalho pra saber se um cara é metódico ou inquieto, burocrata ou criativo... Como se fossem atitudes excludentes. 

(*)

No seu melhor, a canção popular vive do balanço entre repetição e novidade. Balança nessa corda bamba. Anda no fio dessa navalha, tentando não cair no precipício do caos nem no abismo da previsibilidade.
Isto se dá na escala micro (nos poucos segundos de um compasso) e macro (nas décadas de uma carreira); na escolha das notas do solo e das canções do setlist. Está sempre presente a busca do mix certo, na esperança de que as duas asas batam em sincronia. 
(algo que evite qualquer relação com o passado faz tão pouco sentido quanto algo que só queira repetir o passado)

Se respirarmos fundo e nos distanciarmos um pouco pra sacar a perspectiva, vamos ver que é limitadíssimo o universo harmônico e rítmico da música popular. A magia está em descobrir novas formas de cozinhar estes ingredientes.
Há que se partir de um terreno comum para chegar a terrenos inexplorados. Como diz o ditado: não é possível disparar um canhão de uma canoa (a canoa iria pra traz tanto quanto a bala iria pra frente). É necessário uma base firme. Loucura e caretice podem ser bons temperos uma para a outra.

não ficaremos parados 
com a cabeça nas nuvens e os pés no cão

Bah 1: O técnico do meu time, acuado por uma pergunta numa entrevista coletiva, se saiu com esta: ”Você não vai me pegar, eu fiz midia trainning.”
Bah 2: O que se quer (numa coisa boba como o texto da semana ou numa coisa fundamental como o amor da nossa vida) é certeza e surpresa.

Humberto Gessinger
abraço
7ago2012


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"Nós estamos tão atarefados olhando com que está a nossa frente, que não temos tempo de aproveitar onde nós estamos!"
Calvin e Haroldo 
(Calvin y Hobbes)

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