Por DIEGO MÜLLER

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Raza vieja...

 
 
 

Frontera... de mi raza vieja... sin frontera!

I

Nos ventos o ancestral canta
– Dos tempos que nem vivi...
Mas que retornaram aqui,
Nas penas da geografia,
E pintou mi´a genealogia
Entre índios, castelhanos,
Mesclando afros e lusitanos
Por pampas e tolderias!

De um lado vinha Ceballos...
Do outro, Pinto Bandeira...
Era o tempo a riscar fronteira
No rumo dos seus encargos...
Esta é a herança que trago,
A marca que tenho e sinto,
Com dois idiomas distintos
Hablando de um mesmo pago!

E volto desde a Cispatlina,
Pra uma catedral vazia...
Gesta onde as Missões nascia
Com São Sepé e Ñanguiru...
E neste fado xirú,
Ante o mesmo sentimento,
A Colônia do Sacramento,
O charrua e o guaicurú!

Borges do Canto y Artigas...
Madariaga y Souza Neto...
Hijos del mismo dialecto:
De chiripá y de lloronas...
De tropillas cimarronas
En criollas montoneras
Trenzando pátrias camperas
Con guitarras y acordeonas...!

Lanzas e garrões de potro
Seguiram os rastos da raça,
Nos marcos que a história traça
Aos lenços que foram clarins,
Acordando dos confins
Gumercindo e Apparício
Quando lutar era ofício
Herdado de San Martín!

Com Atahualpa e Hidalgo...
Noel Guarany e Romildo Risso,
Guardo um legado mestiço
Que recebi en la pradera...
Tenho uma alma musiquera:
Um canto pampa e barbarucho...
Um universo gaúcho...
Y un corazón sin fronteras!

E são tantos Martins Fierros...
E são muitos Santos Vegas...
Um Facundo que nos chega
Entre quileros e chiberas...
...Se a fronteira tem bandeira
Levará a color da paz,
Mostrando que meu lugar
Nunca que pediu Fronteras!

II

...Por livre tornei-me gaucho
– Voz de sinas mal-domadas –
Riscando a pampa em patriadas,
No altar da gauchería...
No meu sangue a rebeldia,
No meu olhar as lonjuras,
Sorvendo a cor das planuras,
Mandando o mundo a la cria!

E pintaram o meu retrato
Con lanzas y chiripás,
Com gritos de ya-há-há-há
Sob a copa de um sombrero...
Mas nenhum brete ou potreiro,
Resteva ou cerca de pedra,
Pode domar essa regra
De andar – tal qual o Pampero!

Três pátrias trouxe comigo,
Na garupa dos cavalos,
Templando o sangue no embalo
De mangrulhos e garruchas...
– Eis o fado que nos puxa,
Moldado em tempos de guerra...
– Eis a herança desta terra,
Forjando a alma gaúcha!

Ao longe um rumor de tropa
– Cruzando rumbos y vientos –
Traz de tiro os sentimentos
De paisanos y peones...
Recuerdos de mil canciones,
Em madrugadas guerreiras:
Viejas milongas camperas
En rueda de los fogones!

São brados de Lavalleja,
De Rosas, Flores da Cunha...
Na sinfonia terrunha,
Que Hernandez compôs na pampa...
Um rapsodo se levanta,
Que es Fierro y es Viejo Pancho...
E neles a voz dos ranchos,
Nesta guitarra que os canta!

Não fui rei... nem fui escravo
– E mandado nunca serei...
Na noite mais negra eu sei
Achar minha própria luz...
E se jamais fui Jesus
Também não fui um Viscacha,
Pois redimiu minha raça
O brio de um Isidoro Cruz!

...Desse ancestral que eu fui
– Batizado na imensidade –
Me restou a liberdade,
Deusa que eu amo e me acalma...
Fulgor maior do que D’alva
Me dando lume e consolo
E pros velhos Quixotes criollos
Que ainda habitam minh’alma...

III

...E são estas coplas que eu canto
Um rastro nas sesmarias,
Campeando as mil toldoarias
Que abrigaram o meu povo...
Faltam tentos pra o retovo,
Mas sobram notas no pinho
Pra reafirmar meus caminhos
Aos filhos do vento novo!

Eu venho de um tempo antigo,
Eternizado na estampa,
Trazendo as eras de um pampa,
Que faz do verso um portal...
Sarmiento, em meu funeral,
Pensou que a morte se fez...
Mas renasci a cada vez
– Pois minha raça é imortal!

Tinidos de ferro branco
Pelas vanguardas lanceiras,
Ante os brados das fileiras
Das guardas de Canabarro...
É a epopéia em que esbarro,
Dos Mitres, Rocas, Riveras,
Em gestas de montoneras
Forjados no mesmo barro!

Nasci assim... e assim sou,
Mescla de terra e raiz...
História que eu mesmo fiz,
Contada à luz de fogones...
Sembrada en muchas canciones
De mi raza... caminando
Y, si es preciso, peleando...
– Hasta con perros cimarrones!

Vi Garibaldi carreteando,
Desde a lagoa até o mar...
Vi Zitarrosa cantar
E Deus quedarse escuchando...
Vi Saint Hilaire cruzando,
Relatando – como eu faço –
Tempos de lança e de laço,
De arriadas e contrabandos!

Por isso meu canto é Cifra,
Es Vidala, é Serranera...
Alguna Zamba Carpera...
Y un Pericón, tan bagual...
E se fosse um país ideal
– que em minha alma se alonga –
Seria, ao certo, a Milonga
O nosso hino nacional!

...Assim desfaço os limites
Que eu mesmo ajudei fazer
– Uma ave sem se prender
Nas grades de uma bandeira...
Sou gaucho, e a vida campeira
Corre em meu sangue sulino...
E ainda sonho o destino
De un pueblo só – sin fronteras!!!




Diego Müller/Martím César Gonçalves/ José João Sampaio da Silva

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"O que a minha Pátria não puder fazer por mim eu farei por ela...
Tenho certeza que ela terá orgulho de mim...
...E eu serei cada vez mais Gaúcho!!!"

(Rogério Villagran)


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