Por DIEGO MÜLLER

quinta-feira, 5 de março de 2015

Rabequista...



"Meu Senhor Dono da Casa" - que inda ouço na cantata -
Perdoa o sal do marejo neste sopro que maltrata!...
É um pouco de bemquerença... mais de recuerdo e lembrança...
- Pedindo esmola pro terno que inda segue sua andança!

Foi alma açorita e viva no que a rabeca exalava...
Com a benção de Santo Antônio... dos Reis Magos... ante a fala!...
Foi caminho de chão bruto, segundo o rastro da noite,
Batendo de rancho em rancho, sem cansaços como açoite!
 
A cada rabeca feita... a cada crina cortada...
A alma do pago antigo vinha nele - já entranhada!...
- Era um pedaço da templa que forjou o nosso ritual,
Cantando Ternos de Reis no que antecedia o natal!

Bem pilchado, como os de antes - lenço bem rente ao pescoço -
Animando baile antigo, cheio de prenda e alvoroço!...
E a mão rude, ante o arco, desenhava sonhos tantos
A cada nota templada deste gauchismo encanto!

Cada árvore tombada, para ser rabeca - após -
Punha aves dentro dela... saltando o pago na voz!...
- Eram silbos de sabiás... e tajãs, teimando em cantar...
Pondo requintes nos homens, sem divisar pampa e mar!

"Meu senhor Dono da casa"... se você pode me "ouví":
Um dia entrarei com um Terno neste céu grande daí!...
...E não quero violinos tantos... luxos dispenso pra mim!...
- Quero somente a Rebeca que ouvia do "Seu Efraim"!!!


Imagem do livro: "Músicas do Brasil" de Hermano Vianna
Videos: Arquivo da família Machado Ramos, de Santo Antônio da Patrulha

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A rabeca

 
A rabeca é um instrumento musical, classificado como instrumento de cordas friccionadas.

A palavra rabeca é usada tradicionalmente em Portugal e no Brasil para designar os instrumentos de corda friccionada com arco. Na Península Ibérica, desde a Idade Média à atualidade, que palavras de influência árabe como Rebab, Rebec ou Rabil desigam estes instrumentos importados do Norte da África. Em Portugal, até ao séc. XX, os cursos oficiais de conservatório (como é o caso do Conservatório Real de Lisboa) apelidavam-se de «rabeca», sendo substituída a palavra por «violino» no ano 1903. Rabeca Designação tradicional que equivale ao violino. O Rabecão designa o violoncelo. Rabeca Chuleira. No Norte de Portugal, no Baixo Douro (aprox.), juntamente com as violas braguesa ou amarantina, o violão e o canto usa-se a rabeca chuleira para as chulas das festadas. Este, é um violino mais agudo que o comum, feito em especial para acompanhar os cantos agudos das mulheres.


De tom mais baixo que o do violino, tem um timbre fanhoso e percebido, geralmente, como tristonho. Existem rabecas de três, quatro, e mais raramente de cinco cordas. Podem ser de tripa ou aproveitadas de outros instrumentos como o cavaquinho, bandolim ou violão. Suas afinações variam de acordo com o rabequeiro. Podem ser afinadas em quartas (ré, sol, do, fá -D,G,C,F) ou afinadas, por quintas, em sol-ré-lá-mi,como o violino e o bandolim. O tocador encosta a rabeca no braço e no peito, friccionando suas cordas com arco de crina, untado no breu. Juntamente com a viola, é um instrumento tradicional dos cantadores nordestinos. Muitas pessoas confundem a rabeca com o violino, apesar de não terem o mesmo som e timbre.
 
 
Em São Paulo, é usada em folganças ou fandango, na folia-do-divino, moçambique, congadas, dança-de-são-gonçalo e folia-de-reis. No nordeste foi popularizada por bandas locais, onde também é fabricada por gente simples do interior de Alagoas como Nelson da Rabeca. Ao contrário do que a maioria das pessoas pensam, a rabeca foi o primeiro instrumento melódico utilizado no forró. Só posteriormente, com a imigração dos alemães, é que a sanfona foi difundida por todo o Brasil e introduzida na música nordestina. E por ser um instrumento com mais recursos musicais, pois é um instrumento melódico e harmônico (ao contrário da rabeca que é apenas melódico), a sanfona teve maior aceitação.

Na região Norte, a rabeca é usada nas festividades de São Benedito. Na cidade de Bragança, onde destaca-se como o principal instrumento da festa, é tocada desde 1978 pelo mestre Zito no período de 18 a 31 de dezembro. Músicas como retumbão, chorado, xote, mazurca e contra-dança fazem parte do repertorio da festa, mais conhecida com o nome de Marujada. Aurimar Monteiro de Araújo, mestre Ari, é um dos mais renomados artesãos do instrumento na Região Amazônica, utilizando madeiras e fibras vegetais da floresta ele confecciona instrumentos de sons inigualáveis. O mestre foi responsável pela criação da Orquestra de Rabecas da Amazônia, além de uma escola de música e de uma oficina escola que capacitam profissionalmente crianças e adolescentes, preservando assim a memória do instrumento na região.

 

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"Deem-me um ponto de apoio... e moverei o mundo!"
(Arquimedes de Siracusa)

 

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