Por DIEGO MÜLLER

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Deserto verde...

...e o eucalipto!


A expressão deserto verde é utilizada pelos ambientalistas para designar a monocultura de árvores em grandes extensões de terra para a produção de celulose, devido aos efeitos que esta monocultura causa ao meio ambiente. As árvores mais utilizadas para este cultivo são sobretudo o eucalipto, pinus e acácia.
Impactos sócio-ambientais da monocultura extensiva de árvores
Os impactos sócio-ambientais aqui citados referem-se à condição de plantio de árvores produtoras de celulose em regime de monocultura extensiva. A intensidade destes impactos depende das condições ambientais anteriores ao plantio, da espécie de árvore a ser plantada e da extensão da área de cultivo. De modo geral, pode-se inferir os riscos de:

Desertificação das regiões plantadas: por serem árvores de crescimento rápido, há grande absorção de água, podendo levar ao secamento das nascentes e exaustão de mananciais de água subterrânea, afetando seriamente os recursos hídricos locais. Estudos apontam que no Espírito Santo 130 córregos      secaram após a introdução da monocultura no estado, o que impacta nas comunidades que vivem nas regiões vizinhas.
Prejuízo aos solos: como toda monocultura, há exaustão dos solos, o que inviabiliza outras culturas. Além disto, o solo fica exposto durante dois anos após o plantio e dois anos após a colheita, facilitando a erosão.
Redução da biodiversidade: a alteração do habitat de muitos animais faz com que nas regiões de monocultura de árvores só haja formigas e caturritas.
Concentração de terras: para produzir em grandes extensões, as terras são adquiridas aos agricultores, que se deslocam da região gerando um vazio populacional, associado ao êxodo rural.
Pouca geração de empregos: as monoculturas são altamente mecanizadas.
Desmatamento: no Brasil, a associação do eucalipto como alimento aos fornos das siderúrgicas tem induzido o desmatamento nas regiões vizinhas a estas indústrias.


O termo deserto então provém tanto do efeito de deertificação e erosão dos solos quanto do vazio em biodiversidade e em populações humanas encontrado nas regiões de cultivo. Para mitigar estes efeitos, alguns especialistas propõem o plantio de outras espécies vegetais entre corredores dedicados ao plantio de árvores produtoras de celulose. Entretanto, as empresas resistem à aplicação de tal técnica, pois sua meta é maximizar os lucros. Outros cientistas propõem a pesquisa com espécies nativas para produção de celulose. Segundo eles, tais espécies seriam menos danosas ao meio-ambiente.

O plantio do eucalipto vem se expandindo cada vez mais em nosso país, devido à grande rentabilidade que é capaz de gerar. O presente trabalho tem por objetivo fazer uma breve análise crítica desta cultura, citando e explicando o conceito de deserto verde bem como de monocultura. Explicitamos ainda alguns usos para a madeira do eucalipto, como demonstra um gráfico do ano de 2005 para ilustrar o mesmo. Buscamos deixar claro alguns impactos causados por esta monocultura, bem como deixamos também um espaço para a análise do ponto de vista das empresas que fazem uso do eucalipto, citando o exemplo da Aracruz.
Palavras-Chave: eucalipto, deserto verde, Aracruz, monocultura, celulose.


O EUCALIPTO
O presente texto tem por objetivo fazer uma breve análise da monocultura em larga escala de eucalipto, uma prática que vêm se tornando cada vez mais freqüente em nosso país, dada que a rentabilidade dessa prática é altamente lucrativa, principalmente para as grandes empresas que atuam no setor de produção de celulose, exploração da madeira para a fabricação de móveis, bem como sua utilização como lenha ou para produção do carvão vegetal.
Buscamos também fazer uma breve crítica a essa prática por meio da análise de alguns impactos negativos causados por essa cultura, tanto no âmbito econômico, como no social e também no cultural. Ainda tentamos descrever o que dizem as empresas que exploram a madeira para os diversos usos citados, dando a oportunidade de se analisar e tirar suas próprias conclusões sobre o estudo, não se esquecendo, porém que a nossa opinião tende mais para o lado da crítica negativa de tal atividade.
Vamos também, tentar analisar o porque do uso do termo “deserto verde” para designar as grandes plantações do eucalipto, suas implicações, possíveis problemas causados e o porque esse termo tem sido cada vez utilizado com mais freqüência, principalmente pela nossa mídia.


A MONOCULTURA E O DESERTO VERDE
O eucalipto é uma planta originária principalmente da Austrália e do continente da Oceania, embora algumas raras espécies sejam de ilhas como Nova Guiné e Timor, além das Ilhas Moluscas (ANDRADE, 1918, p. 3). Sua implantação em outras áreas se deu somente no século XIX, começando pela Europa, passando pelos Estados Unidos e finalmente chegando ao Brasil por meio do Sr. Frederico de Albuquerque, no ano de 1968, no estado do Rio Grande do Sul (ANDRADE, 1918, p.4). Um dos maiores propagadores da espécie pelo país foi A. Pereira da Fonseca, realizando grandes plantações no estado do Rio de Janeiro, com variadas espécies do gênero eucalyptus (ANDRADE, 1918, p.4).
A planta começou a ser amplamente utilizada depois da descoberta de seu valor econômico, e hoje é utilizada como principal fonte de alimentação da indústria da celulose no Brasil, o que acaba por ocasionar grandes discussões e até mesmo conflitos entre proprietários de terras plantadas com o eucalipto e a grande massa de militantes sem-terra. Uma das grandes vantagens do eucalipto e sua rápida difusão, é o fato de a planta ser capaz de se adaptar aos mais diversos tipos de climas, desde locais quentes e secos, como os deserto australianos, à climas muito úmidos e frios, como na Escócia.
O termo deserto verde vem ganhando um grande destaque na mídia, tanto no âmbito nacional quanto no internacional, devido à grande repercussão que tem causado os atritos que envolvem esse termo. Mas o que afinal define “deserto verde”?


A expressão deserto verde é utilizada pelos ambientalistas para designar a monocultura de árvores em grandes extensões de terra para a produção de celulose, devido aos efeitos que esta monocultura causa ao meio ambiente. As árvores mais utilizadas para este cultivo são sobretudo o eucalipto, pinus e acácia 
(MEIRELLES, 2006).
Grande parte desta discussão se deve ao fato de as terras utilizadas para o cultivo de monoculturas em larga escala, não atingirem um grande contingente de mão-de-obra humana, já que grande parte destas propriedades são altamente mecanizadas, e quando há o emprego de mão-de-obra esta não é devidamente remunerada. Outro fator que tem importância nessa discussão é o fato dessas culturas serem capazes de absorver enormes quantidades de água, podendo até mesmo ressecar rios e outras fontes hídricas existentes no entorno dessas grandes plantações. Como exemplo disso pode ser citado o estado do Espírito Santo, que segundo Daniela Meirelles Dias de Carvalho, geógrafa e técnica da Fase, organização não-governamental que atua na área sócio-ambiental, só no norte do Espírito Santo já secaram mais de 130 córregos depois que o eucalipto foi introduzido na região.


Derrubada de Eucalipto 
Fonte: http://www.rel-uita.org/agricultura/ambiente/fotos/eucalipto-300.jpg
Este problema é relativamente recente na história brasileira, levando-se em conta que a espécie Eucalyptus não é nativa de nosso país, e tem sido trazida em grande escala para o Brasil com o intuito de ser uma rentável e enorme fonte de recursos, provindos especialmente da exportação da celulose, já que os principais fins para o eucalipto são a indústria moveleira, a indústria de celulose a utilização como carvão vegetal e também como lenha. O gráfico abaixo demonstra como é utilizada a madeira proveniente do eucalipto no Brasil:


IMPACTOS NEGATIVOS
Uma série de problemas são gerados devido à exploração de eucalipto em grandes áreas, dentre as quais se destacam as indicadas abaixo:
• Desertificação do clima e de solo: as grandes florestas como as de eucalipto necessitam de uma enorme quantidade de água, para se ter uma idéia, segundo a matéria Deserto Verde (Disponível em: . Acesso em: 10 de novembro de 2008.), cada pé de eucalipto necessita, para crescer satisfatoriamente, levando-se em conta o rendimento econômico, de aproximadamente 30 litros de água por dia, o que acaba gerando um grande déficit hídrico nas regiões onde são cultivados, gerando assim certa desertificação da região. Esse é um grave problema, já que muitas plantações são realizadas às beiras de córregos e nascentes de rios, o que acaba por ressecar o solo, como já foi acima explicitado, tomando-se como exemplo o caso da região norte do Espírito Santo;
• Ressecamento do solo e uma maior exposição à erosão: como o eucalipto está sendo plantado visando-se unicamente uma maior viabilidade econômica possível, depois de alguns anos a plantação é cortada, deixando o solo empobrecido e exposto a erosão, causando enormes impactos ambientais na região onde estava sendo cultivada a floresta. Outro problema é que, para se tentar recuperar áreas tão degradadas como essas, são gastas enormes quantias de dinheiro por parte das autoridades competentes;
• Diminuição da biodiversidade: como acima citado, as florestas de eucalipto são cultivadas priorizando somente um retorno econômico. Assim sendo, não são cultivadas juntamente outras espécies de vegetais, o que diminui a diversidade vegetal da região de floresta, já que a mesma também impede que gramíneas e pequenos arbustos cresçam e se desenvolvam, embora quando estejam pequenas, as árvores do eucalipto, não forneçam um bloqueio radiação solar como quando estão grandes. Outro problema é a falta da diversidade da fauna, já que os únicos animais que conseguem sobreviver nesses tipos de florestas são “formigas e caturritas (aves predadoras de lavouras que usam as árvores de eucalipto como abrigo, mas não se alimentam delas)” (QUADRO: impactos da monocultura do eucalipto. Disponível em . Acesso em: 27 de outubro de 2008.);
• Especialização da atividade produtiva: esse problema se deve ao fato de o cultivo de grandes áreas de eucalipto serem dedicadas somente à monocultura e altamente especializada, gerando um grande desemprego em algumas regiões, que chegam até mesmo a perderem suas características culturais, como por exemplo, cita PEREIRA (2006) em um artigo sobre o cultivo de monoculturas na região sul do Rio Grande do Sul, onde cita que:  o avanço da monocultura de eucalipto na metade sul do Rio Grande do Sul deve gerar a ruptura de duas tradições produtivas: a pecuária, realizada principalmente nos latifúndios, e a produção da agricultura de subsistência, realizada nos interstícios das grandes propriedades.


Esse problema pode acabar por gerar um grande impacto social naquela região, que tem como uma das características peculiares a perpetuação de sua cultura, contando inclusive com centros especializados nessa atividade, como por exemplo, os CTG’s (Centro de Tradição Gaúcha). Quando se analisam dados referentes ao emprego de mão-de-obra na plantação de eucaliptos, comparando-a com outros ramos de atividades, chega-se a uma enorme diferenciação. Por exemplo, enquanto para se gerar um emprego no setor de comércios no Brasil, em 2006, segunda PEREIRA (2006, p.11), são gatos cerca de US$ 30.000,00, um emprego no cultivo do eucalipto pode chegar a exigir um investimento de até US$ 3,75 milhões, pela indústria VERACEL. Essa disparidade causa grande indignação por parte de organizações não-governamentais que lutam por direitos trabalhistas, ainda mais quando se é levado em conta a atual situação do emprego no Brasil e a grande diferenciação na qual vivemos.

• Transformação da paisagem: algumas áreas de plantação de eucalipto atingem regiões de ecossistemas em risco, o que acaba transformando a paisagem do local, perdendo estas características peculiares de como já citado, também parte de sua tradição. Estes ecossistemas estão sendo muito ameaçados, já que o poderio econômico de empresas como a Aracruz Celulose, acaba transformando a paisagem natural das regiões de cultivo.
Como um exemplo de estudo de caso, temos um artigo elaborado por PEREIRA (2006, p. 11-12), no qual o autor cita algumas críticas relacionadas à implantação da monocultura do eucalipto da região Sul do estado do Rio Grande do Sul, dentre elas:
• Problemas ambientais;
• Concentração da terra, com expulsão imediata dos agricultores que as venderam. O que mostra que as empresas não querem ficar dependentes de parcerias;
• É mais um obstáculo à reforma agrária naquela região;
• Modelo de concentração da terra, de capital e da renda;
• Modelo exportador, cujos impostos já estão todos desonerados pela lei Kandir, contribuindo muito pouco para os cofres públicos dos municípios e do Estado;
• Não gera emprego;
• Gera vazios populacionais;
• O plantio de culturas anuais em consórcio, com o eucalipto, apregoado pelas empresas, só é possível nos dois primeiros anos, pois nos anos subseqüentes a competição por luz, água e nutrientes, inviabiliza as culturas anuais, e finalmente;
• Os investimentos nas grandes fábricas de celulose estão desvinculados da matriz produtiva já existente, instalada na região.
Essas críticas são defendidas pelos trabalhadores da região sul do estado do Rio Grande do Sul, contando inclusive com o apoio de membros das bancadas na Assembléia Legislativa do estado.


Polêmica no Rio Grande do Sul
De acordo com Mora e Garcia (2000), o eucalipto foi introduzido no Brasil em 1904, sendo utilizado inicialmente como matéria-prima de produção de lenhas e dormentes no estado de São Paulo e depois estendendo-se para o Centro e Sul do país. Ainda segundo estes autores: “O setor florestal brasileiro mantém hoje cerca de 4,8 milhões de hectares de plantações florestais de rápido crescimento em regime de produção. São cerca de 3 milhões de hectares reflorestados com eucaliptos e 1,8 milhão de hectares com pinus [...]. Outras espécies, como a araucária, acácia negra e teca também são plantadas comercialmente, porém em menores proporções” (MORA; GARCIA, 2000, p.16). A figura 1 exemplifica a distribuição das plantações de eucalipto ao redor do mundo em 1998. De acordo com Mora e Garcia (2000), nessa época o Brasil possuía área plantada bem reduzida em relação à sua área total.

Figura 1: Distribuição em percentagem das plantações de eucalipto no mundo, 
no ano de 1998.

Fonte: Flynn e Associates, 1999 apud Moura e Garcia, 2000, p.15.
No Rio Grande do Sul, de acordo com Binkowski (2009), no início de 2004 o governo do estado começou uma política pública para atrair empresas do setor florestal, objetivando expandir a produção florestal e desenvolver a região da ‘Metade Sul’2 do estado. No início de 2005:  “[...] tais empresas iniciaram os primeiros investimentos através de compras e arrendamento de terras, efetuaram também os primeiros plantios de eucalipto em novas áreas; ainda existia a previsão de construção de duas fábricas de celulose, além da duplicação da fábrica já existente no RS. Na ótica do Estado essa política florestal iria reerguer a economia estadual” (BINKOWSKI, 2009, p.20). Desde então, uma polêmica em torno deste assunto começou no Rio Grande do Sul, uma vez que as plantações estariam sendo direcionadas para a área do bioma campos sulinos, que tem grande importância na biodiversidade do Rio Grande do Sul. Conforme o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (IBAMA), os campos do Rio Grande do Sul são denominados de maneira genérica de pampa. Segundo o engenheiro agrônomo Carlos Nabinger, em entrevista à reportagem especial “Eucalipto vai invadir o Pampa”, do Jornal da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), “a cobertura vegetal do pampa tem mais de três mil espécies, 450 delas são gramíneas e podem servir de forragem e 150 são leguminosas. Elas sustentam 90 espécies de mamíferos nativos e mais de 100 espécies de aves.” (Jornal da Universidade, 2007, p.9). A polêmica girava em torno de que alguns setores da sociedade afirmavam que a silvicultura certamente provocaria danos aos campos sulinos, enquanto que as empresas defendiam os ganhos sociais de tais empreendimentos. Assim, segundo Binkowski (2009): “formou-se um cenário complexo em torno da questão da expansão da silvicultura do RS, onde os principais atores sociais mobilizados eram o próprio Estado, as empresas florestadoras e os grupos ambientalistas. Posteriormente, os “movimentos sociais” agregaram-se à “luta”, polemizando o debate e anunciando que a questão da expansão dos cultivos na “Metade Sul” do RS não poderia ser vista apenas em termos de desenvolvimento econômico e que a sociedade deveria estar ciente dos riscos sociais que esses cultivos poderiam ocasionar à população do pampa gaúcho” (BINKOWSI, 2009, p.21).

Figura 2: Representação da metade sul e norte do Rio Grande do Sul.

Fonte: BINKOWSKI, 2009. Adaptado de Ministério da Integração Nacional, 2007. Conforme Corrêa (2009), poucas regiões são tão propícias para a exploração extrativista florestal como o bioma pampa, uma vez que aqui existe, além de terra, insolação necessária, tecnologia, mão-de-obra e manejo desenvolvidos. Mesmo assim, as divergências quanto ao uso dessas terras para silvicultura são muitas. Pensando em aumentar a produção do setor florestal, e ao mesmo tempo preservar o meio ambiente, o governo do Rio Grande do Sul, juntamente com empresas, órgãos técnicos ambientais e iniciativa privada instituíram o Zoneamento Ambiental para a Atividade da Silvicultura do Rio Grande do Sul. O zoneamento ambiental representa uma divisão do território nacional em parcelas, na qual autoriza-se uma determinada atividade, ou proíbe-se, absoluta ou relativamente, o exercício de outras (CORRÊA, 2009). Ele é importante, pois “visa a subsidiar processos de planejamento e de ordenamento do uso e da ocupação do território, bem como da utilização de recursos ambientais” (CORRÊA, 2009, p. 15). Corrêa afirma que, na visão dos ambientalistas, os campos sulinos não podem sofrer invasão de espécies exóticas; para esses setores, a silvicultura causará impactos irreversíveis se conduzida da maneira que as instituições privadas e o governo propõem. Lorea et al. (2008), em reportagem publicada no jornal Zero Hora e intitulada “A metade sul depois da floresta”, afirmam que de acordo com pesquisa da Associação Gaúcha de Empresas Florestais – Ageflor, 4,5% dos cerce de 11 milhões de hectares de estabelecimentos agrícolas do pampa gaúcho devem estar ocupados, até 2011, por lavouras de pinus, acácia e eucalipto. De acord com a reportagem os ganhos para a metade sul são muitos e a prefeitura do município de Pinheiro Machado fez uma tabela em que constam os ganhos da cidade desde que a Votorantin Celulose e Papel3 se estabeleceu ali, em que constam: um hotel, um restaurante, três lojas, duas farmácias, dentre outros, que juntos empregam mais de 141 pessoas, o que equivale a 1% dos pinheirenses. Em contrapartida, Thuswohl (2006) afirma que estudos realizados pela Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (FASE) e pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), "demonstraram que a monocultura do eucalipto é altamente mecanizada em todas as suas fases e demanda pouca mão-de-obra nos locais onde está instalada” (THUSWOHL, 2006, p.2). Segundo Pereira (2006), o ‘deserto verde’ formado pelas plantações do eucalipto “destrói o solo e consome uma enorme quantidade de água. E, além disso, que já é bastante, o monocultivo do eucalipto é capaz de gerar apenas um emprego em cada 185 hectares de terra ocupada” (PEREIRA, 2006, p.42). Já Mora e Garcia (2000) argumentam que a manutenção da mão-de-obra nas plantações de gestão intensiva não ocorre de forma linear, ou seja, a oferta de trabalho diminui drasticamente quando a empresa já está instalada, mas que por outro lado são criadas outras oportunidades de emprego ligadas direta e indiretamente ao empreendimento florestal.
Conforme David (2006), alguns dos impactos ambientais que são causados pelo monocultivo de eucalipto são: a redução da biodiversidade da flora e da fauna do Pampa Gaúcho – onde estima-se existir mais de 3 mil espécies, entre as quais gramíneas e leguminosas forrageiras –, a degradação da fertilidade dos solos – exigindo grandes investimentos de recuperação posterior à colheita –, e compactação pelo uso de máquinas pesadas. A figura abaixo ilustra esta posição, e está presente em reportagem “Eucalipto vai invadir o Pampa”, do Jornal da Universidade de 2007.

Figura 3: Charge do cartunista Santiago.

Fonte: Site do Centro de Estudos Ambientais.
Paulo Mendes, economista e sócio fundador da cooperativa de comércio justo e consumo consciente questiona em artigo “Silvicultura, empregos de papel”: “Será que não tem alternativa para desenvolvimento da Metade Sul? O turismo, a fruticultura, a vitivinicultura, os hortigranjeiros, os frigoríficos, a reforma agrária, a melhoria do rebanho e das lavouras de arroz aplicando tecnologias mais sustentáveis, estas não seriam alternativas mais viáveis e duradouras?” (MENDES, 2007). Como diferentes atores sociais estão envolvidos na polêmica da silvicultura da ‘Metade Sul’, as disputas entre os dois lados vão se renovando e mantendo uma circularidade na discussão, fazendo com que não se vislumbre uma resolução tão próxima para este conflito.


CONCLUSÃO
Com isso é possível notar que mesmo com as empresas se defendendo com vários argumentos a favor do uso deste tipo monocultura, alegando que agem com responsabilidade social e atuam de harmonia com o meio ambiente contribuindo para a proteção ambiental (site:Aracruz), é inevitável deixar de lado as críticas negativas, umas vez que fica evidente que a cultura do eucalipto traz prejuízos sociais como por gerar poucos empregos e ser um obstáculo no processo de reforma agrária, por demandar grandes áreas de plantio, levando a formação de grandes vazios populacionais. Os prejuízos ambientais, por mais que as empresas fazem uma propaganda favorável são evidentes, pois nem todas as áreas de cultivo são bem manejadas como as produtoras alegam, e isso gera diversos impactos ambientais negativos, desde na degradação do solo, perda excessiva de água, acarretando em um enorme prejuízo na biodiversidade, tanto da fauna quanto da flora.
E com o aumento constante significativo das plantações de eucalipto no país estes impactos, tanto na área ambiental como na social, cada vez mais facilmente serão notados,e o “deserto verde” cada vez mais característico em nosso país.


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Não, nada de piqueniques! 

O encanto das paisagens numa tela é que elas não têm cheiro, nem temperaturas, nem ruídos, nem mosquitos. Nada, enfim, do que acontece nas desconfortáveis paisagens reais. Quando estive no Rio, o P.M.C.¹, meu colega, amigo e editor, se ofereceu para “uma tarde destas” me mostrar o Rio. Agradeci-lhe horrorizado:

- Não, muito obrigado, Paulinho! Eu sou evoluído: o que mais me agrada no Rio são os túneis...
Creio que ele suspirou de alívio.

Pois bem que ele deveria saber, como poeta de verdade, que nunca se deve ser apresentado a uma paisagem. É uma situação embaraçosa. Nem ao menos se lhe pode dizer : “Muito prazer em conhecê-la, minha senhora!”
Esse não pode ser um conhecimento voluntário, aprazado, mas uma lenta osmose inconsciente, de modo que no fim se fique pertencendo à paisagem, e vice-versa.
Não se pode conhecer nada num minuto e só por isso é que os turistas não conhecem o mundo.

Jamais acreditei em observação direta, principalmente quanto à criação poética. Tanto assim que quase dei a um de meus livros o belo título de “O Viajante Adormecido”. Só não o fiz porque a Gabriela me observou que o poderiam apelidar de “O Leitor Adormecido”...
Fraqueza minha! E por que não o “leitor adormecido” mesmo? A comunicação poética, no seu mais profundo sentido, não é acaso subliminar? Os poetas que dizem tudo acabam não dizendo nada. Porque a poesia não é apenas a verdade... É muito mais!

A Poesia é a invenção da Verdade!!!
(Mario Quintana) 

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"AS INDAGAÇÕES: A resposta certa, não importa nada: o essencial é que as perguntas estejam certas!"
(Mário Quintana)

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