Por DIEGO MÜLLER

quarta-feira, 21 de março de 2012

O tempo e o vento...

...O filme!



A trilogia O Tempo e o Vento, do escritor brasileiro Erico Verissimo, é considerada por muitos a obra definitiva do estado do Rio Grande do Sul e uma das mais importantes do Brasil. Dividido em O Continente (1949), O Retrato (1951) e O Arquipélago (1962), o romance representa a história do estado gaúcho, de 1680 até 1945 (fim do Estado Novo), através da saga das famílias Terra e Cambará.

(Érico Verissimo)

Na segunda-feira passada, dia 12 de março, estivemos em BAGÉ, onde participamos, com colegas da dança e da música, da uma reunião e de um bate-papo informal junto aos produtores, diretores e equipe técnica do longa metragem O TEMPO E O VENTO. Juntos estivemos bailando, tocando, cantando, proseando, charlando, estreitando laços culturais... agregando conhecimentos mútuos!
Estaremos participando das filmagens no mês de Abril e Maio, fazendo uma ponta dançando no casamento de Rodrigo e Bibiana, oportunidade esta sendo indicado pelo meu grande amigo, homônimo,  e parceiro de poesias, DIEGO MÜLLER (o cineastra! - Diego Goulart Müller), onde na ORQUESTRA CAMPEIRA que tocará a grande festa debaixo da Figueira central do povoado de Santa-fé estarão grandes amigos e parceiros. Conosco nesta comitiva estavam meus pais, Roberto e Iara Müller e a Francine e o Marcos Barbosa, integrantes da Invernada veterana Os Caudilhos, do CTG Brazão do Rio Grande, de Canoas/RS. Juntos outros grandes amigos, ÉRLON PÉRICLES, ZELITO RAMOS, PIRISCA GRECCO, SHANA MULLER e PAULINHO GOULART... Lá conhecemos ALEXANDRE GUERRA, produtor musical do filme que colheu imagens e sons para compor a trilha e a cena do baile, levando muito material para São Paulo, para fazer este trabalho. Também estivemos com o renomado diretor JAIME MONJARDIM, presente na reunião, diretor do filme, ajustando todos os detalhes. Mais tarde, um sarau poético musical se estabeleceu no PARQUE DO GAÚCHO, onde podemos conhecer as construções da vila de Santa-fé e seu casario, junto a um belo assado, onde estreitamos os laços de amizade com toda a equipe, que ouviu atentamente muitos de nossos artistas a exemplo dos já citados e de GUILHERME COLLARES, LISANDRO AMARAL, BETO BORGES E RICARDO COMASSETO!
Baita noite e baita clima... onde o filme começou bem, levando esse clima em breve ás telas de todo o mundo!

Valeu gurizada, meus amigos, e valeu Diego Müller (Macaco!)!...

(Roda musical e o nosso folclóre para Alexandre Guerra)



O tempo e o vento
Monjardim acerta últimos detalhes para gravação

(Reunião)

A dinâmica de trabalho não dá brechas e o diretor do longa-metragem O tempo e o vento não perde corre para acertar os últimos detalhes das gravações da obra do escritor gaúcho Erico Verissimo, previstas para o dia 26, em Pelotas. 
No sul do Estado desde o final de semana, Jayme Monjardim busca em Bagé elementos existentes à época para que a obra seja a mais fiel possível às memórias de Bibiana Terra Cambará, personagem marcante de uma história épica, que trata da formação do Estado gaúcho.
Na nova terra de Santa Fé, o cineasta esteve reunido com as equipes de direção, elenco, produção, arte e cenografia, cerca de 30 profissionais. O tempo e o vento deve entrar no circuito nacional em 2013 e a exibição da minissérie da obra está prevista para 2014.
(Fonte: Diário popular - Pelotas/RS - http://www.diariopopular.com.br)



(Zelito Ramos, Erlon Péricles e Jayme Monjardin)


O Continente
(Érico Verissimo, retratado por André Koehne)

O título que Erico deu inicialmente à sua trilogia era O Vento e o Tempo e assim permaneceu quando os originais foram mandados para impressão na Editora Globo. Somente quando já estava para ser lançada a primeira edição, é que o título foi invertido.

A primeira parte de O Tempo e o Vento foi publicada em Porto Alegre no ano de 1949 e narra a formação do Estado do Rio Grande do Sul através das famílias Terra, Cambará, Caré e Amaral. O ponto de partida é a chegada de uma mulher grávida na colônia dos jesuítas e índios nas Missões. Esta mulher dará à luz o índio Pedro Missioneiro, que depois de presenciar as lutas de Sepé Tiaraju através de visões e ver os portugueses e espanhóis dizimarem as Missões Jesuíticas, conhecerá Ana Terra, filha dos paulistas de Sorocaba Henriqueta e Maneco Terra, este filho de um tropeiro (Juca Terra) que ficou encantado com o Rio Grande de São Pedro ao atravessá-lo para comerciar mulas na Colônia do Sacramento e que obtém uma sesmaria na região do Rio Pardo.
Ana Terra terá um filho com o índio, chamado Pedro Terra. Logo que seu pai descobre sobre a gravidez, ele manda os irmãos de Ana matarem Pedro Missioneiro. Quando castelhanos invadem a fazenda da família Terra, matam pai e irmãos da moça e a violentam, mas ela conseguira esconder o filho, a cunhada e a sobrinha. Partem para Santa Fé, onde se passará o resto da ação de O Tempo e o Vento. Lá Pedro Terra cresce e tem uma filha, Bibiana Terra, que se apaixonará por um forasteiro, o capitão Rodrigo Cambará. Ana Terra e o capitão Rodrigo são até hoje considerados dois arquetipos da literatura brasileira.
Os sete capítulos de O continente (A Fonte, Ana Terra, Um Certo Capitão Rodrigo, A Teiniaguá, A Guerra, Ismália Caré e O Sobrado) podem ser lidos de diversas formas. Uma delas é a história da formação da elite rio-grandense, que culminará na Revolução Federalista de 1893/95. As lutas pela terra, as guerras internas (Farroupilha, Federalista) e externas (Guerra do Paraguai, Guerra contra Rosas) marcam definitivamente a vida e a personalidade daqueles gaúchos e ecoam de forma muito forte ainda hoje na identidade do Rio Grande do Sul.
Do ponto de vista histórico-literário, O continente está inserido no chamado Romance de 30, obras de cunha neo-realista que aliam a descrição denunciante do Realismo às investigações psicológicas das personagens e liberdades lingüísticas do narrador, frutos do Modernismo. Assim como O continente, muitas dessas obras são de cunho regionalista.
Os dois volumes de O continente são os mais lidos e conhecidos da trilogia. Parte de seu conteúdo teve adaptações para o cinema e a televisão. O sucesso do personagem Capitão Rodrigo nas telas levou a Editora Globo a publicar em separado o capítulo da obra a ele dedicado, Um certo Capitão Rodrigo.

Ismália Caré
"Ismália Caré" é a última das grandes narrativas inteiriças que compõem O Continente. É, de certa forma, o elo que liga todas as outras narrativas que seguiam a história da família Terra-Cambará desde o século XVIII (A Fonte, Ana Terra, Um Certo Capitão Rodrigo, A Teiniaguá e A Guerra) com O Sobrado, a grande narrativa fragmentada que envolve todas as outras ao longo de O Continente, e que é o clímax da história.
Nela revemos várias personagens presentes nas narrativas anteriores, como Bibiana, Licurgo, Carl Winter, Florêncio, Bento Amaral e outras. Como a narrativa anterior (A Guerra), Ismália Caré não apresenta um enredo com fatos marcantes; apresenta, em contraparte, a evolução das personagens que o leitor acompanhava. Santa Fé é elevada ao status de cidade. Luzia morreu, deixando a educação de Licurgo e o controle do Sobrado à sua odiada sogra, Bibiana (cumprindo assim, o desejo da outra). Licurgo já é um homem completamente formado, e está prestes a casar com sua prima Alice, filha de Florêncio, que só recentemente reatara relações com o povo do Sobrado.
Por influência do grande amigo Toríbio Rezende, Licurgo funda um clube republicano em Santa Fé, e adere fervorosamente ao movimento abolicionista, libertando seus escravos:

O convívio com Toríbio Rezende, a leitura dos artigos que Júlio de Castilhos publicava na imprensa atacando o império e fazendo a propaganda a abolição e da república - tudo isso tinha feito Licurgo Cambará um republicano e um abolicionista.

Sua nova posição política intensifica ainda mais sua rixa contra a família Amaral. Sabemos pela narrativa de O Sobrado que Licurgo será eleito intendente de Santa Fé por voto livre, e que suas relações com o governo é que atrairão o ataque dos magaratos a sua residência.

Título: O título faz referência à amante que Licurgo tinha antes do casamento, e que era fonte de conflito com sua avó, que desejava que o neto abandonasse a jovem para não prejudicar o compromisso. Curiosamente, a personagem em si (apesar de mencionada a todo momento) só aparece em pessoa ao final da narrativa.

O Retrato
A história se passa em Santa Fé no início do século XX, então iniciando timidamente seu processo de urbanização, ainda marcada pela cultura rural.

"Naquela tarde de princípios de novembro, o sueste que soprava sob os céus de Santa Fé punha inquietos os cata-ventos, as pandorgas, as nuvens e as gentes: fazia bater portas e janelas: arrebatava de cordas e cercas as roupas postas a secar nos quintais: erguia as saias das mulheres, desmanchava-lhes os cabelos: arremessava no ar o cisco e a poeira das ruas, dando à atmosfera uma certa aspereza e um agourento arrepio de fim de mundo.
Por volta das três horas, um funcionário da Prefeitura assomou à janela da repartição e olhou por um instante para as árvores agitadas da praça, exclamando: "Ooô tempinho brabo!"
Num quintal próximo, recolhendo às tontas as roupas que o vento arrancara do coradouro e espalhara pelo chão, uma doma de casa resmungava: " É para um vivente ficar fora do juízo!"(...)
— O Tempo e o Vento/O Retrato.

Toda a história é marcada pelo contraste entre o Dr. Rodrigo Cambará, homônimo do capitão, homem da cidade, de um lado, e o Coronel Licurgo, seu pai, homem do campo, de outro. Como mediador desse conflito, aparece seu irmão Toríbio.
O próprio Dr. Rodrigo é um personagem marcado pelos contrastes. Formado em Medicina, adquiriu em Porto Alegre, onde estudou, o gosto por uma vida sofisticada. Ao chegar a Santa Fé, vestia ternos elegantes, trazia na bagagem iguarias e vinhos franceses e um gramofone e na mente projetos de vida grandiosos. Mas frequentemente esse verniz se rompia e se revelava o típico macho gaúcho, com acessos de violência e de um incontido desejo sexual.
O homem confiante e superior que se julgava vai, então, cedendo aos poucos o lugar para o homem amoral em que acaba se transformando. Erico explora bem esse contraste ao fazer recorrentes comprarações entre o retrato, pendurado nas paredes do Sobrado, que fixa o Dr. Rodrigo idealizado por si mesmo no seu apogeu, e o homem em que ele vai se transformando.
Os grandes acontecimentos do século passam ao longe, chegam pelo telégrafo e pelos jornais, e pouco influem na vida das pessoas, a não ser como motivo de discussões políticas e filosóficas. Ao contrário de O continente, onde os personagens são protagonistas da História, aqui eles são espectadores desinteressados.

O Arquipélago
A última parte da trilogia foi lançada onze anos após O Retrato, quando os meios literários já não mais esperavam a continuação de O Tempo e o Vento, devido à frágil saúde de Erico, convalescente de um ataque cardíaco.
Aqui, parte da ação transcorre no Rio de Janeiro, então a capital do país, com o Dr. Rodrigo Cambará eleito deputado federal. Assim, os personagens principais não são mais espectadores dos fatos nacionais, mas participam diretamente deles. Ao longo do romance, aparecem vários personagens reais, como Getúlio Vargas, Osvaldo Aranha, Luís Carlos Prestes, que contracenam com os personagens criados pelo autor. Isso confere à história uma dinâmica especial.
Novamente, no seio da família Cambará, desenrolam-se as contradições de uma época marcada por uma radical revolução de costumes, sob a influência do cinema americano. Na família Cambará e suas relações, há desde comunistas a oportunistas. No meio deles, assumindo uma postura crítica e não engajada, aparece Floriano, alter ego do próprio Erico.
O autor inova ainda ao introduzir um capítulo narrado por uma personagem feminina, Sílvia, que apresenta os personagens de O Arquipélago sob um ângulo diferente.

Mulheres fortes
Os personagens masculinos de O Tempo e o Vento, principalmente em O Continente, revelam a imagem que geralmente se faz do homem gaúcho, valente e machista. Mas realmente fortes, principalmente no sofrimento, são as personagens femininas de Erico, tipos antológicos como Ana Terra, Bibiana e Maria Valéria.
Isso reflete a história pessoal de Erico, que sofreu com a separação traumática dos pais ainda na adolescência, numa época em que a separação de casais era inaceitável. Erico narra em suas memórias (Solo de Clarineta) a coragem da mãe em tomar a iniciativa da separação e como o pai abandonara a administração de sua farmácia para viver nos bares e bordéis.
A perseverança da mãe, que trabalhava como costureira para sustentar Erico e seu irmão Ênio, foi certamente sua inspiração na criação dessas mulheres fortes.

(O tempo e o vento - Luiz Coronel e Marco Aurélio Vasconcellos)


Érico Lopes Veríssimo 

Foi um dos escritores brasileiros mais populares do século XX

De família abastada que se arruinou, Érico Veríssimo era filho do farmacêutico Sebastião Veríssimo da Fonseca (1880-1935) e da dona de casa Abegahy Lopes (dita "dona Bega"). Tinha um irmão mais novo, Ênio (1907), e uma irmã adotiva, Maria. Quando tinha quatro anos de idade, Érico Veríssimo ficou gravemente doente e, após ser levado a vários médicos, foi finalmente diagnosticado com meningite complicada com broncopneumonia pelo médico Olinto de Oliveira, cujo tratamento salvou sua vida. Durante sua infância, estudou no Colégio Venâncio Aires, em Cruz Alta, onde foi um aluno comportado e quieto, frequentava o cinema e observava o pai trabalhando. Por volta de 1914, com quase dez anos, Érico criou uma "revista", Caricatura, na qual fazia desenhos e escrevia pequenas notas.

Aos treze anos, Érico já lia autores nacionais, como Aluísio Azevedo e Joaquim Manoel de Macedo, e estrangeiros, como Walter Scott, Émile Zola e Fiódor Dostoiévski. Em 1920, ele foi matriculado no extinto Colégio Cruzeiro do Sul (hoje Colégio IPA), um internato de orientação protestante de Porto Alegre, deixando sua namorada Vânia em Cruz Alta. No novo colégio, Veríssimo foi por muito tempo o primeiro de sua classe, embora tivesse aversão à matemática. Em seu último ano letivo, o jovem Érico chegou a sofrer de claustrofobia e de pesadelos.Em dezembro de 1922, terminados os estudos de Veríssimo, seus pais se separaram; as diferenças do casal eram notáveis: Sebastião era um homem gastador e mulherengo e dona Bega, uma mulher econômica e mais reclusa. Érico, sua mãe e seus irmãos passaram então a morar na casa dos avós maternos. Deprimido e endividado, o pai perdeu a propriedade da farmácia. No ano seguinte, Érico empregou-se como balconista no armazém do tio Américo Lopes e, depois, no Banco Nacional do Comércio. Durante esse tempo, transcrevia obras de Euclides da Cunha e de Machado de Assis, dentre outros escritores, e tomou gosto pela música lírica. Também aprofundou mais ainda a leitura de escritores nacionais e estrangeiros.Em 1924, para que o irmão Ênio pudesse frequentar o ginásio, a família mudou-se para a capital gaúcha, mas retornou a Cruz Alta após um ano de extrema dificuldade financeira. Em 1926, Érico se tornou sócio da Farmácia Central, junto com um amigo de seu pai, mas o novo empreendimento faliu em 1930, deixando uma dívida que só conseguiria liquidar dezessete anos depois. Além de farmacêutico, Érico também trabalhou como professor de literatura e língua inglesa à época.
Em 1927, Veríssimo conheceu sua futura esposa, Mafalda Halfen Volpe, então com quinze anos, e os dois ficaram noivos em 1929. Nesse mesmo ano, publicou-se o primeiro texto de Veríssimo:Chico: um Conto de Natal, na revista mensal "Cruz Alta em Revista". Em seguida, seu amigo Manuelito de Ornelas enviou os contos Ladrão de Gado e A Tragédia dum Homem Gordo à revista do Globo. E o jornal Correio do Povo publicou o conto A Lâmpada Mágica.

(Autor: Tom Jobim)

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"O oposto do amor não é o ódio, mas a indiferença...
Felicidade é a certeza de que a nossa vida não está se passando inutilmente!"
Érico Veríssimo

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