Por DIEGO MÜLLER

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

A imaterialidade da coisa...


...e o "tradicionalismo" atual!!!


Algo assustador vem ocorrendo gradativamente no Rio Grande do Sul. Um movimento de pressão política e cultural está em vias de subverter completamente o princípio do patrimônio imaterial. A primeira cena dessa burla ocorreu no gabinete do prefeito José Fortunati, quando foi apresentado o processo para “tombar o tradicionalismo e suas manifestações como Patrimônio Imaterial”, conforme notícia do Conselho Municipal de Cultura de Porto Alegre. O Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG) investe-se de elemento dessa aberração.

Por óbvio, se poderia considerar “patrimônio imaterial” manifestações culturais, mas não a “entidade” que as promove. Considerar o tradicionalismo, que é uma sociedade privada, organizada na sociedade civil, como “patrimônio imaterial” seria a mesma coisa que reconhecer o Grêmio ou o Internacional como únicas manifestações genuínas e autênticas do futebol. Certamente, se um clube sumir, isso não afetará a existência do esporte.

O tradicionalismo é um movimento cívico-cultural organizado em rede, de forma associativa, e de caráter de massa, articulado pela indústria cultural e diversos interesses comerciais, políticos etc., que, além de milhares de posturas sinceras, especulam com hábitos, costumes e elementos da tradição. Não existe imaterialidade no tradicionalismo. Duvidosamente, a imaterialidade poderia ser encontrada em algumas manifestações utilizadas pelo movimento, entretanto reinterpretadas, agregadas por sentidos contemporâneos, sem sustentação metodológica. Portanto, ainda assim, de forçosa “imaterialidade”.

A seleção, a reinterpretação, a reorganização, e o novo sentido agregado, adequado aos interesses do movimento, retiram a sua “imaterialidade”. O motivo: não é mais autêntico; foi tradicionalizada.


Desde os anos 1940, o tradicionalismo vem privatizando uma série de manifestações culturais, hábitos e costumes rio-grandenses. Muitos existiam isolados em regiões remotas. Da tradição foram retirados e reelaborados em uma engrenagem de rede. Um eficiente marketing e práticas de adestramento comportamental encarregaram-se de “educar” os contingentes como se pertencessem a todos os grupos humanos. E o que é pior: como se o RS tivesse um único gentílico formatador gauchesco.

Praticamente todas as manifestações adotadas pelo tradicionalismo já existiam antes do seu aparecimento como entidade privada. Se o tradicionalismo, por sua vez, desaparecer, as realmente importantes continuarão existindo. Patrimônio imaterial é o mate (legado indígena), a culinária, determinadas músicas e danças regionais etc., e não o tradicionalismo.


Com o sucesso de se transformar em “patrimônio imaterial”, o tradicionalismo chegou ao extremo de sua usurpação da riqueza cultural regional. Ele se converte em “único”, “legítimo” portador dos eventos da identidade. Ele passou a ser o próprio fenômeno. Parece evidente que esta nova expropriação não resiste à História e ao contrato republicano da sociedade contemporânea. A imanência tradicionalista o conduziu à crença de que ele é, em essência, a coisa...


Nessa lógica, a “cidadania” ainda será acusada de crime contra o patrimônio se realizar qualquer crítica a um tradicionalista (em essência, a coisa imaterial), protestar contra seus hábitos de estercar as cidades nos meses de setembro; espancar animais nos rodeios; ou o poder público ficará impossibilitado de realizar alguma reforma urbana porque em determinado lugar existe um galpão com uma placa tosca na fachada escrito CTG, cujas atividades são de duvidoso interesse público.

Passando à imaterialidade, só falta agora o tradicionalismo almejar ser o espírito do rio-grandense.

Artigo do professor e mestre Tau Golin, jornalista e historiador.

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Infelizmente hoje ler um livro parece, para alguns, significar "folclorista"... instruir um grupo de danças significa "professor"... usar uma bombacha significa "gaúcho"... Comprar um cavalo significa "campeiro"... ser conselheiro de um "movimento" - estanque e ditador - significa "mantenedor da cultura"... e tudo isso chama de "tradicionalismo"! Meus pesar, pois não é esta a visão que pregaram e que idealizaram da coisa. E longe disso é o que passarei adiante com o pouco que tenho a ensinar. A vaidade e a cobiça "material" em cima do imaterial prevalece, usando nomes de grandes para ganhar espaços temporários ena grandeza de um mundo silmples e sem complexidade... um mundo de terra e alma. Os criadores do movimento - verdadeiro - merecem mais respeito... e o homem rural não se vê nos olhos dessa gente, dita "gaúcha"!!! ... felizmente!!!


PRA FAZER PÁTRIA DE NOVO 
(Diego Müller & João Sampaio) 

Trago um sonido disperso 
E um crioulo resplendor, 
Nasci gaucho e payador 
No galpão grande do verso... 
A pampa é o meu universo, 
Meu brasão a liberdade, 
Mantenho pura a identidade 
E carrego fundo no miolo 
Tudo que um avô crioulo 
Me deixou de eternidade! 

Por isso tenho no canto 
Laço, flecha e arcabuz, 
Remansos de salmo e luz, 
Canção guerreira e acalanto... 
Contra o modismo me levanto, 
Aponto desvios cetegianos 
Que circenses e profanos 
Inventam decretos tenebrosos 
Com movimentos mentirosos 
Que ofendem os brios pampeanos! 

Assim enfrento sereno 
Os mercenários da cultura 
Que se acham de grande altura 
Mas na verdade são pequenos, 
Jujos ruins passam por buenos 
Pra grande massa povoeira, 
Roubam pesquisas inteiras 
E assinam com o próprio nome... 
São abigeatários com fome 
E corvos da arte campeira!

Pátria é este chão onde estou, 
Minha vida é a realidade 
Com a mesma intensidade 
Que eu herdei daquele avô... 
Meu canto se enraizou 
Como um palanque na memória 
Sem brilho de lata, ou glória 
De falsos tchês fantasiados 
E cantores alienados 
Cuspindo na nossa História!!! 

O meu canto é flecha e alma, 
Espelho de terra e de povo... 
De pé no estribo e lança afiada 
Pra fazer pátria de novo!!!

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"Tenho visto surgir, por vezes, "mecenas crioulos" que não sabem "o sol que anuncia a seca", "o pasto que faz mal", que "ovelha não é pra mato", deitando regras sobre a criação! Tem gente que só enxerga como culatra de carreta. Não adianta... Isto é folclore de campanha, mas não é para recavem acomodado em cadeira de veludo, sem identidade rurícula, cujo filosofar só parece em tripa de linguiça: cheia de ar! O melhor mesmo é abrir a porteira e deixar sair campo afora, de cola erguida, e que se percam sozinhos pelo pampa, engolidos por algum barrocal. Este movimento é irreversivel, vem de baixo para cima... da alma nativa do povo. Não agüenta tampão deste ou daquele pretenso bostejador sapiente!"
(João Carlos Paixão Côrtes)

2 comentários:

  1. Cara tu é muito loco.. Tem pouca base nesse seu post. Pelo que percebi, coloca o MTG como um propagador de cultura dita rio grandense que na realidade não seja? SF@#$!
    Pelo que notei neste post percebi que o senhor tem pouco conhecimento sobre cultura, tradição e costumes gaúchos.
    Procure novas fontes de conhecimento. POR FAVOR!!

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  2. Quer ser minha fonte? hehehe. Só o que me falta!

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