sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Lançamento nacional dia 27 de setembro

 

 


O TEMPO E O VENTO ESTREIA EM 20 DE
SETEMBRO NOS CINEMAS



Thiago Lacerda vive Capitão Rodrigo em O tempo e o vento
 
Foto:Jayme Monjardim/ DivulgaçãoA nova adaptação do clássico de Érico Veríssimo, com roteiro assinado por Leticia Wierzchowski e Tabajara Ruas, chega aos cinemas em 20 de setembro — data que marca o início da Revolução Farroupilha. Livremente adaptado deO Continente, primeiro tomo de O tempo e o vento, a produção dirigida por Jayme Monjardim se concentra na história de amor entre Bibiana (interpretada por Marjorie Estiano na juventude e por Fernanda Montenegro na maturidade) e o Capitão Rodrigo (vivido por Thiago Lacerda).

Sob o ponto de vista de duas famílias rivais, a Terra Cambará e a Amaral, o filme abrange um período de 150 anos, desde as Missões até o final do século XIX. O elenco ainda conta com Cléo Pires, Leonardo Machado, Fernanda Carvalho Leite, Janaína Kremer, Rafael Cardoso e Mayana Moura.
 
 


Em entrevista concedida ao blog da Intrínseca, Letícia Wierzchowski definiu O tempo e o vento como um livro seminal. “Aqui no Sul, então, nem se fala”, completa. “No começo deu um medo terrível. Mas eu precisei me apropriar da história, ter coragem de mudar coisas — não a essência —, ver coisas por um outro prisma para poder erguer o roteiro. Alguns vão gostar, outros não.”


Jayme Monjardim e Fernanda Montenegro nos bastidores das filmagens em Pelotas

Para a escritora gaúcha, cujo próximo romance será publicado em julho, foi fascinante dividir essa experiência com Tabajara Ruas, Jayme Monjardim e Thiago Lacerda. “Eu conheço o Jayme Monjardim desde A casa das sete mulheres, pois ele dirigiu a série. Jayme é um cara joia, que sabe tirar o melhor dos seus parceiros. E o Capitão Rodrigo é o Thiago Lacerda, amigo muito querido. Tem também a Vanessa Lóes, a Fernanda Montenegro, aquela deusa… Foi um trabalho incrível, e para mim, que sou escritora e, a priori, trabalho na solidão, é bom trocar ideias e ver gente de vez em quando.”

(Com informações do jornal Zero Hora.)

Leia também: Letícia Wierzchowski apresenta os personagens de Sal, seu próximo romance que será publicado em julho.
 

 
 
 
 








"Às vezes ouço passar o vento;
e só de ouvir o vento passar,
vale a pena ter nascido."Fernando Pessoa
 
 
 

domingo, 14 de abril de 2013

O coração da minha gente...

...em CD!!!
 

Gurizada...

Como disse, após a pascoa, as novidades estão no ar e chegando!
Venho faceiro contar a todos, pois a hora é agora:

Repertório pronto e tudo em fase de finalização para o CD "CORAÇÃO DA MINHA GENTE", abrindo meus trabalhos fonográficos (já com mais projetos no forno), esse na parceria com o grande irmão e parceiro de sempre, Érlon Péricles. Faz horas que a peleia por esse registro vem acontecendo... e agora tudo se encaminhou, e se Deus quiser que tudo dê certo, até o fim de Maio ou início de junho as cópias já estarão na rua para os amigos, para os apreciadores da boa música e principalmente para o "Coração da minha gente", com temas de sotaque nascido da terra vermelha, brotado dos galpões de chão batido e batizados nas águas dos nossos rios guaranis, beirando selvas antigas e ainda vivas... tudo com a simplicidade do nosso interior e com a gana que os nossos anteriores possuíam!
 

(Crédito para as fotos, locadas nas Barrancas do Rio Uruguai durante o Festival da Barranca-2013, do grande Emílio Pedroso e assessoria de Roger Lerina - diretamente da Zero Hora para o mundo).
 
 

CD CORAÇÃO DA MINHA GENTE
- Diego Müller e Érlon Péricles -
(gravações originais)

01- Namoro de gato (L: Diego Müller/João Sampaio/M: Érlon Péricles)
Vaneira – Érlon Péricles
02- Desnucando a oito-soco (L: Diego Müller/Binho Pires/M: Érlon Péricles II)
Vaneira – Érlon Péricles
03- Entre el río y el arenal (L: Diego Müller/João Sampaio/M: Érlon Péricles)
Chamamé – Shana Muller
04- Ranchito (L: Diego Müller/João Sampaio/ M: Érlon Péricles)
Valseado – Angelo Franco
05- Na moda do Reduzino (L: Diego Müller/João Sampaio/M: Elton Saldanha/Érlon Péricles)
Chamarra – Érlon Péricles
06- Cajoneando (L: Diego Müller/João Sampaio/M: Érlon Péricles)
Candombe – Érlon Péricles e Pirisca Grecco
07- Do Passo ao Rincão da Raia (L: Diego Müller/M: Érlon Péricles)
Queromana tropeira – Érlon Péricles
08- Do cimo da serra (L: Diego Müller/João Sampaio/M: Érlon Péricles)
Chamarra – Érlon Péricles
09- Com a cordeona nas mãos (L: Diego Müller/João Sampaio/M: Érlon Péricles)
Chamamé – Érlon Péricles
10- Loco véio (L: Diego Müller/Binho Pires/M: Érlon Péricles)
Chote – Ita Cunha
11- De la raza chamamecera (L: Diego Müller/João Sampaio/M: Elton Saldanha/Érlon Péricles)
Chamamé – Daniel Torres
12- Olarai do litoral (L: Diego Müller/João Sampaio/M: Caio Martinez/Érlon Péricles)
Olarai – Caio Martinez
13- Sentinela do rincão (L: Diego Müller/Binho Pires/M: Érlon Péricles)
Milonga – Érlon Péricles
14- Coração da minha gente (L: Diego Müller/João Sampaio/M: Érlon Péricles)
Chamarra – Ângelo Franco

Abraço a todos e um ótimo início de semana!
 
 
 
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"Eu que tô na estrada – e sou dela apenas – não colhi suas flores, mas trouxe os espinhos... Porque o tempo passa – sem pedir permisso – se o fiador é a cerca... girando caminhos! E eu que tenho tanto pra saber, te falo que às vezes penso que sabia tudo... Preciso buscar o tudo que me espera bem além da estrada, lá no fim do mundo!!!..."
(Diego Müller e Vasco Velleda)
 

quinta-feira, 4 de abril de 2013

7 pecados...

...o trabalho!
 
(Foto: Rogério Villagran)
 
 
01- Pra quem anda irado:
indico Trabalho!... e um pouco de calma!

02- Pra quem anda orgulhoso:
indico Trabalho! ...e humildade para ver o quanto os outros também merecem!

03- Pra quem anda preguiçoso:
indico Trabalho! ...e disposição!

04- Pra quem anda em luxurioso:
indico Trabalho! ...e um pouco de inocência!

05- Pra quem anda cobiçoso:
indico Trabalho! ...e algo de generosidade!

06- Pra quem anda guloso:
indico Trabalho! ...e um tanto de temperança!

07- Pra quem anda invejoso:
indico Trabalho! ...e muito de gratidão!

E, de lambuja,
 
08- Pra quem anda vicioso:
indico Trabalho! ...e amor por si mesmo!

Você realmente se acha iluminado?
Alguém que enfrentou e suportou realmente todos os seus medos?
Sabe observar e tem a capacidade de avaliar os erros e onde as pessoas deveriam acertar?
Porquê não usar essa habilidade então para auxiliá-las, corrigi-las, indicá-las a caminhos, ser um educador...
ao contrário de simplesmente avaliar?
Iluminados e evoluídos auxiliam... ensinam!

#Souparceiro!!!

Assim:
trabalhe, que, no más...
é tentar ser uma pessoa boa!
 
 
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"Além do lance dramático, cultural e religioso, acho que esta época do ano induz a um estado meditativo quase melancólico. Quem conhece o outono porto-alegrense sabe a que me refiro!"
(Humberto Gessinger)
 

terça-feira, 2 de abril de 2013

A barranca...


 ...e seus campeões!!!
 

Para um grupo abençoado de convidados, a Semana Santa é sagrada também por outra razão: é durante esses quatro dias que se realiza o Festival da Barranca, em um acampamento à beira do rio Uruguai, a 13 quilômetros de São Borja. Faltar a esse comício de espíritos é pecado de lesa-gauchismo.

A 42ª edição do festival regionalista há mais tempo em atividade sem interrupção reuniu cerca de 300 pessoas, celebrando a temática da descendência em canto e verso.

Entre os dias 28 e 31 de março, o encontro de músicos e apreciadores da música, da cultura e da vida campeiras evocou a alma que há cinco décadas animou um punhado de amigos à beira do rio a passar alguns dias à base de pesca e alguma música. Como se cantava mais do que se pescava, em 1972 a pescaria acabou se transformando em festival graças à iniciativa de figuras como Apparicio Silva Rillo, José Lewis Bicca, Carlos Castilhos e Antonio Augusto Fagundes – presente na edição deste ano, Nico Fagundes venceu a primeira Barranca com a música Eu e o Rio.
 

O Festival da Barranca tem suas peculiaridades: mulher não pisa no acampamento, entra apenas quem é convidado por algum anguera, e dinheiro só vale se for manduca – homenagem ao pioneiro Tio Manduca, a moeda é estável, e o câmbio tem paridade com o real. Outro diferencial é que os concorrentes têm menos de 24 horas para compor suas canções – o tema é anunciado no começo da noite da Sexta-Feira Santa e, no sábado, os músicos têm que defender as obras.
 

Neste ano, o mote proposto foi "descendência" – 30 canções foram inscritas, sendo 27 apresentadas no palco montado sob um galpão. A vencedora foi Semente, interpretada pelo cantor, compositor e violonista Mário Barbará, veterano de 27 edições de Barranca, e pelo violonista Apparicio Silva Rillo Neto (confira a lista de vencedores ao lado). Como nas tertúlias que se realizam espontaneamente nos quatro dias entre as barracas e no palco, a gincana para compor um tema em apenas um dia promove parcerias que ultrapassam diferenças de idade, de estilo e de origem. Calejados barranqueiros como o cantor, compositor e gaiteiro Luiz Carlos Borges – detentor do recorde de 37 horas tocando sem parar em uma edição passada do festival – e o fenômeno do violão Yamandu Costa tocaram na cidade de lona ao lado de novatos como o músico argentino Pablo Grinjot.
 

– Isto aqui é uma coisa inacreditável – disse o portenho, entusiasmado com o Woodstock gaudério.

Já definida pelo compositor e poeta Sergio "Jacaré" Metz como "um comício de espíritos", a Barranca segue fiel à ideia congregadora de seus fundadores.

– Foi uma das melhores edições dos últimos anos, em que as pessoas puderam estar mais próximas do abraço. Foi uma Barranca mais humana – resumiu o anguera Marco Antônio Loguércio.
 

Os vencedores:

> Troféu Apparicio Silva Rillo (primeiro lugar) e Troféu Sergio "Jacaré" Metz (melhor letra): Semente, de José Fernando Gonzalez e Mário Barbará
> Segundo lugar: Outros no Mesmo Lugar, de Rafael Ovídio, Zelito Ramos e Pirisca Grecco
> Terceiro lugar: Los Mesmos, de Carlos Cachoeira e Chicão Dornelles
> Troféu Quá Quá (música humorística): De Sepé Até a Barranca, de Elton Saldanha, Tadeu Martins e José Atanásio Borges Pinto


 
 
 
 
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"Se o que eu sou é também
o que eu escolhi ser, aceito a condição
!"
(Los Hermanos)

 

domingo, 31 de março de 2013

Semana santa...


...e o 42º Festival da Barranca



Começa nesta quinta-feira, 28 de Março, mais uma edição do tradicional Festival da Barranca. Organizado pelo Grupo Amador de Arte Os Angüeras, o evento acontece todo o ano, no período pascal. Apenas homens participam. Rodeados de violões, bombos leguero e muito churrasco, os músicos recebem o tema anual no Festival na quinta-feira à noite, tem toda a seta-feira para compor e musicar suas músicas. A apresentação é no sábado, para a avaliação dos jurados.



A estrutura para o evento, que acontece nas margens do Rio Uruguai, já está montada. Serão aproximadamente trezentos músicos reunidos, com destaque para as presenças de Yamandú Costa, Érlon Péricles e Luis Carlos Borges, que está completando cinquenta anos de carreira.


Em 2012, com os versos “…A estação ali na frente, Galponeira, sim senhor, Fogo grande hospitaleiro, Com mate e computador…”, a canção “Na Estação ali na Frente”, de Pirisca Grecco, Miguel Tejera e Tadeu Martins, levou o primeiro lugar do Festival da Barranca.

O Festival na História


O festival da Barranca foi criado pelo grupo Os Angüeras – Grupo Amador de Arte, de São Borja. Conforme o histórico disponibilizado em seu site, o grupo foi fundado em 10 de março de 1962, com atuação permanente nos campos da música, do teatro, da literatura regional e da pesquisa de folclore, o Os Angüeras – Grupo Amador de Arte, surgiu a partir do Departamento Cultural do chamado “Clube dos Dez” – grupo de amigos que se reuniam, periodicamente. Os fundadores foram Apparício e Suzy Rillo, Carlos e Maria Moreno, José e Magda Bicca, Sady Santiago e sua noiva Ana Rosa, Darwey e Mariazinha Orengo, Telmo de Lima Freitas e Vicente Goulart.


“O nome foi escolhido a partir da sugestão do poeta e historiador Apparício Silva Rillo. De origem Guarani, “Angüera” significa “espírito que volta” ou “alma que se devolve ao corpo”, um pouco estranho a primeira vista, mas, logo, compreensível, pois o “Angüera” antes triste e caladão, virou cantador e tocador de viola, depois que os padres das Missões o batizaram e lhe deram o nome de Generoso e, assim, na mitologia missioneira “Angüera” pode ser considerado o patrono da música e da alegria gaúcha.”

(Carlos Cachoeira, Diego Müller, Olívio Dutra e Paulinho Cardoso)

Por Fábio Giacomelli

Fotos e informações:

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Correria boa de abril e maio...
E vamos trabalhando!!!

XI Canto Missioneiro - Santo Ângelo/RS
15, 16 e 17 de março de 2013:
* LUNA MISIONERA - Chacarera
L: Diego Müller e João Sampaio/M: Ernesto Fagundes
* UN CHAMAMÉ Y NADA MÁS - Chamamé
L: Diego Müller/M: Marcelinho Nunes

XXI Sapecada da canção nativa - Lages/SC
24 e 25 de maio de 2013:
* FOLE FLORIADO - Chamamé
L: Diego Müller e Rodrigo Bauer/M: Edilberto Bérgamo
* FLOREANDO - Chote
L: Filipe Calvete Corso/M: Diego Müller

Suerte pa´ todos y pa´ nosotros!

Abração!

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"Ninguém pode construir em teu lugar as pontes que precisarás para atravessar o rio da vida – ninguém, exceto tu, só tu!"

segunda-feira, 25 de março de 2013

Um pouco de infância...

...e de dança!


Passei uma das semanas passadas toda (principio de semana) escutando vinil antigos dos quais me trouxeram vários sentimentos, porquês e lembranças. Isso associado e minha ida ao rodeio de caxias de 2013 (cidade que fazia um ano do qual não conseguia subir para rever meus amigos - e estava com saudade de todos), onde na volta conversei muito com meu colega de viagem, Arévalo Almeida (originário de um meio dito de enart), com o tema totalmente em cima das danças gaúchas e do nosso meio dito tradicionalista, onde esses fatos me inspiraram a estas palavras...

...Me recordo, em minha infância, da qual em vez de brincar de carrinhos, De skate, de futebol e tantas coisas comuns a uma pessoa comum (hehe), todas minhas diversões principais eram baseadas em coisas rurais e do meio da dança e do espetáculo gaúcho. Imitações de ensaios, de shows, construção de parque de rodeios, apresentações , gauchadas, tiros de laco, gineteadas e tudo mais... Chegando até a organizar regulamento de rodeios com minhas próprias normas e idéias. Coisa de criança viciada da qual viu isso a vida toda. E vez de escutar rock nacional e gaúcho, minha audição se resumia a passar os vinis de Noel Guarany, Paixão cortes e de Inézita Barroso para cassete onde eu podia os escutar em meu quarto, enquanto desquitava um tento para fazer crus barbicachos para meus chapéus, coldres para algum futuro revolver, bombas de taquapis, isqueiros de fuzil, passadores de chifres e bainhas para facas e facões. Nessa mesma época que levei os primeiros trabalhos de luiz Marenco, de jorge Guedes e Joca martins, além dos já clássicos temas de Noel Guarany, aos meus colegas de mirim, de juvenil e, a posterior, de um grupo adulto. Nem todos aceitavam esses fonógrafos, mas hoje certamente inserido em suas culturas musicais!
Minhas tardes, em vez de seção da tarde, eram animadas por fitas de videos do fegart 93, de farroupilha, onde eu sabia de cor as apresentações do Ctg os serranos, melhor grupo que já vi dançar, ensinado por meu mestre Rui arruda, imitando até os sapateiros, entradas, saídas e danças (queromaninha, fandango, gralha azul, etc e etc). Tempo clássico que não volta mais. Estava lá sentado assistindo e sei o quanto essa apresentação mudou minha vida! Isso por eu já ter vindo de um meio totalmente artístico: Comecei a caminhar vendo os ensaios do Tropeiros da tradição (antigo), dentro do próprio Brazão, convivi com Terson Praxedes, meu amigo, do qual sempre gosto de falar sobre dança e cultura! Vi o Eri Assenato dar aula de danças no Brazão, isso em 91. Frequentei pia os últimos mobrais, assisti o xarope a dançar sua famosa chula, ouvi causos sobre Norton Do Carmo (mago da dança), brincava na casa do Ronaldão, dançarino dos Muuripás... Tudo isso quando meus pais (tri campeões do estado) dançavam ainda nos primeiros eventos em farroupilha, onde, pra completar, tinha meu padrinho de nascimento Celso Luz da Costa (O Celsão), ex dançarino na época dos gaúchos, como instrutor desse grupo, dentre outros. Depois veio o fegart e eu sempre lá. Ultimo fegart e primeiros enarts dai como dançador de chula, tenteando implantar o que eu pensava (sem resultados, obvio)! 92 em vacaria acompanhei de perto toda a revolução que a dança teve, principalmente pelo livro da carta de vacaria ter sido organizado dentro do Brazão. Revolução essa vinda já do fenart 91, que hoje muitos se olvidam. Vi bem de perto o barbicacho e o minuano, seguido pelo porteira do mola e dos grupos do Ramiro, matando a pau. Não menosprezo os outros grupos e as outras escolas, mas somente esses mexeram comigo. Só esses me emocionaram e fizeram minha memoria. Vi bem como esse modo de dança entrou no rs e em nosso Ctg Brazão Do Rio Grande, e se outras pessoas quiserem mentir, nosso ctg tem memória e poderá desmentir a qualquer hora... Por isso forçamos os diretores da entidade, a posterior (98), a trazer um dos que criou esse modo de dançar (que nada mais era do que apenas seguir o que o Paixão dizia, e ainda diz), tendo como nosso instrutor o Rui Arruda Antunes, meu instrutor a 16 anos já... 

Não aprendi a usar bombacha, não nasci usando bombacha... Aprendi a saber de onde vem a bombacha e ainda mais quis vesti-lá depois de saber a historia que existe por traz dela. É um orgulho! Não uma fantasia e uma norma! É um relato de nações e povos! Isso em tudo!

Bom...
Essa foi minha infância, essas eram minhas brincadeiras. Hoje reestudei uns vinis do Paixão, e para surpresa sabia de cor todas as letras e musicas, clássicos que muitos contestam, mas deu ao Paixão o prêmio de melhor interprete de folclore do nosso país. Como seria diferente?... eu gostar de outra coisa, eu seguir outros rumos, defender outras bandeiras, militar por outras culturas e outros modos sociais de ver o povo? 
Como conseguir não estar a frente de grupos de danças, mostrando minha visão e aprendizado, e não estar defendendo os meus?
Como conseguir estar apartado do folk, não gostar do terrunho, do simples? Como não se arrepiar com o folclore?
Esse era meu destino e é... Na infância ele já se moldou assim, e não foi por acaso.
Em vez de ver livros de pintar e de colar, minhas leituras (leigas pra época) eram Fernando Assunção, Paixão Côrtes, Carlos Vega, Barbosa Lessa, Jayme Caetano Braúna, Rillo, aureliano, Zeca Blau, etc e etc. obvio, Paixão cortes sempre como leitura predileta. Como não aprender? 
Em vez de fazer temas de casa eu colecionava quadrinhas folclóricas antigas (desde livros e danças açorianas, argentinas, vindo até Simões Lopes Neto e Augusto Meyer). 
Não é por acaso que o próprio Paixão tem um respeito enorme por minha família e meu CTG de origem, tanto que em muitas oportunidades pude estar com ele, aprendendo, ensinando, jogando conversa fora e conhecendo as pessoas com que ele aprendeu tudo. Boas e eternas oportunidades das quais agradeço e retribuo da melhor maneira possível.
Hoje ainda tenho a dança como meu talento principal, porém divido meu gosto maior entre ela e a Musica, vindo também dessa mesma época... onde estar entre, ser amigo e ser parceiro de pessoa que jamais imaginei estar perto, é um motivo de estremo agradecimento e de aprendizado (principalmente aprendizado)! Meus temas falam de mim e de tudo que aprendi e vi (independente se vi ou aprendi pouco), junto a meus amigos rurais e os livros e culturas das quais absorvi. Tudo dos livros e vinis citados acima tentei ver "In loco", aprender e reescrever, devolvendo a um povo do qual não conhece e nem sabe de onde apareceu. As vezes me contestando e contestando as obras... Mas, paciência: a militância não é apenas de um dia e de uma obra... É de tempos até se chegar ao povo! Quase uma guerra!!!

Não me arrependo... 
Porém quando perguntam, quem é o Diego, quem é esse tal de Diego, tenho orgulho de dizer que tenho amigos que me defendem e dizem realmente o que eu fiz na minha infância (que era sim, uma brincadeira para mim, que hoje virou coisa seria e responsável), quem eu sou e de onde venho... Principalmente de onde eu venho!!! Sou isso, uma pessoa inserida no que defendo. Não sou ninguém... Porem, Sou o que aprendi apenas, nunca mais que ninguém, e nem menos!!! Sou um gaúcho, não um dançarino ou alguém de Ctg, para se contestar estilo, modelo de bombacha que uso, tamanho de lenço, solado de bota, etc! Não sou fantasia: sou o meio! 
Não tenho ganas de sucesso ou de fama... Muito menos de grandes fortunas... Mas sempre levarei o que penso adiante, pondo o nome dos meus em primeiro plano! Levantarei essa bandeira sempre, sem me importar com imagens (mentirosas) ou simbologias criadas para maquiar o que foi! Levarei o verdadeiro e cru! 
Esse é meu destino: como cerne, sem atenção exagerada a casca!!!

Bom dia a todos!!!...
...E deem cultura a seus filhos!!!

Diego Müller - canoas, chácara barreto - janeiro de 2013

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"Façamos da interrupção um caminho novo.
Da queda um passo de dança,
do medo uma escada,
do sonho uma ponte, da procura um encontro!"
Fernando Sabino



domingo, 17 de fevereiro de 2013

Caio Fernando Abreu

 
 
"Descobri — numa carta de Clarice Lispector para Lucio Cardoso — que polisipo, em grego, significa “pausa na dor”. Têm sido, estes dias, polisipos."
Caio Fernando Abreu
 
Caio Fernando Loureiro de Abreu
(Santiago, 12 de setembro de 1948 — Porto Alegre, 25 de fevereiro de 1996)
foi um jornalista, dramaturgo e escritor brasileiro.
 
Apontado como um dos expoentes de sua geração, a obra de Caio Fernando Abreu, escrita num estilo econômico e bem pessoal, fala de sexo, de medo, de morte e, principalmente, de angustiante solidão. Apresenta uma visão dramática do mundo moderno e é considerado um "fotógrafo da fragmentação contemporânea".
 
 
"São os atos e não as palavras que podem salvar."
Caio Fernando Abreu
 
Biografia
Caio Fernando Abreu estudou Letras e Artes Cênicas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde foi colega de João Gilberto Noll. No entanto, ele abandonou ambos os cursos para trabalhar como jornalista de revistas de entretenimento, tais como Nova, Manchete, Veja e Pop, além de colaborar com os jornais Correio do Povo, Zero Hora, Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo.
Em 1968, perseguido pelo Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), Caio refugiou-se no sítio de uma amiga, a escritora Hilda Hilst, em Campinas, São Paulo. No início da década de 1970, ele se exilou por um ano na Europa, morando, respectivamente, na Espanha, na Suécia, nos Países Baixos, na Inglaterra e na França.
Em 1974, Caio Fernando Abreu retornou a Porto Alegre. Chegou a ser visto na Rua da Praia usando brincos nas duas orelhas e uma bata de veludo, com o cabelo pintado de vermelho. Em 1983, mudou-se para o Rio de Janeiro e, em 1985, para São Paulo. A convite da Casa dos Escritores Estrangeiros, ele voltou à França em 1994, regressando ao Brasil no mesmo ano, ao descobrir-se portador do vírus HIV. Abreu era declaradamente homossexual em plena época da Ditadura Militar no Brasil.
Em 1995, Caio Fernando Abreu se tornou patrono da 41.° Feira do Livro de Porto Alegre.
Um ano depois, Caio Fernando Abreu voltou a viver novamente com seus pais, tempo durante o qual se dedicaria à jardinagem, cuidando de roseiras. Faleceu em 25 de fevereiro de 1996,Hospital Mãe de Deus em Porto Alegre, no mesmo dia em que Mário de Andrade. Seus restos mortais jazem no Cemitério São Miguel e Almas.
 

"Me conta de ti. Não devemos-nos perder, somos tão poucos, meu amigo. Cuide de você, não sofra sem necessidade, me queira bem. Te quero bem."
Caio Fernando Abreu
 
Escritor
(por Luciano Alabarse)
Como Clarice Lispector,  Caio Fernando Abreu pertence ao grupo dos escritores que transcendem a literatura. Suas palavras, elaboradas, lapidadas, fruto de grande trabalho intelectual, não cabem na folha branca, onde tudo começa para um ourives da linguagem escrita. Caio escreveu para a vida mesma de seus inúmeros leitores, quer incidir no comportamento de quem o lê, revirar certezas absolutas, introduzir a transformação catártica daqueles que buscam sua obra. É uma obra vasta, diga-se. Contista de mão cheia, alguns de seus livros mais importantes trazem alguns dos contos mais surpreendentes da língua portuguesa. Na sua literatura, cabe tudo - menos a caretice enrijecida do olhar monocromático de quem tem suas certezas asseguradas em defesas comportamentais. Caio quer o salto sem rede, o precipício, o perigo iminente. Sua rede de segurança é a sinceridade humana possível, único elemento que pode redimir e redimensionar a vida que nos cabe. É esse o traço mais impactante de sua escritura: a sinceridade absoluta, a cumplicidade com todos os eus possíveis do ser humano, um olhar de atrevida compaixão pelas mazelas dos deserdados, a simpatia sem reserva pelos excluídos da vida perene. Caio tem a palavra como estilete afiado a cortar mediocridades defensivas, parágrafos inúteis, gente que olha sem ver o que o vasto mundo cruel oferece a cada um. Contista, cronista, novelista, transitava bem entre todos os gêneros, e não se prendia a nenhum, imprimindo excelência e humanidade em todos os parágrafos com sua assinatura.
Muitas vezes vi Caio caminhando pelo sobrado do bairro Menino Deus, aonde o visitei durante todos os anos de sua vida. Era bastante comum que me lesse em voz alta o resultado do seu trabalho. Era o seu método preferido de chegar à redação final daquilo que escrevia: ler em voz alta. Queria a sonoridade perfeita, o fluxo acertado, a elipse reveladora, o adjetivo sem adornos que valorizasse a narrativa.  Talvez por isso sua palavra seja tão adaptável ao palco do teatro, mesmo quando não escrita especificamente para tal fim. Cru, cruel, generoso, excessivo, desafiava a neutralidade que regra boa parte do que se escreve no Brasil. Queria a página viva, a letra pulsante, o verbo sagrado, a forma adequada para valorizar aquilo que lhe era a mais humano de todas as nossas características: a busca, o caminho, a procura de. Caio era aluno e professor, sujeito e objeto, consciente e intuitivo, sofisticado e popular, engraçado e depressivo. Em seus inúmeros livros publicados, desde o início, acreditou na comunicação direta e imediata com o leitor. Não por acaso, tantos anos depois de sua morte, sua obra tem sido ainda mais valorizada do que antes. É impressionante a identificação das gerações posteriores a ele, e que, sem conhecê-lo vivo, trata de manter viva sua obra.
Caio escreveu compulsivamente, viveu compulsivamente e morreu desejando continuar a escrever. A literatura, para ele, era matéria viva em direção ao conhecimento do mais obscuro sentimento, a revelar a impossível possibilidade de roçar a eternidade. Guardava seus rascunhos, seus cadernos, suas frases seminais: tudo era passível de virar obra viva, a partir de sua satisfação com o resultado buscado. Poucos escritores brasileiros têm, em seu currículo, essa admiração entre seus leitores. Poucos certamente escapam de uma forma esvaziada de pulsação vital.  Sua excruciante sinceridade é o que explica essa identificação, inclusive com gerações posteriores. Fruto de seu tempo, sim, mas com o prazo de validade extremamente esgarçado e sem data de vencimento, a literatura de Caio Fernando Abreu revela o homem que ele foi, o cidadão atento ao seu mundo, imerso nas convulsões comportamentais que sacudiram o mundo em suas décadas de adolescente. Obcecado pela qualidade estética, nunca deixou que sua palavra ficasse estéril. Não tenho dúvida de que, nesses tempos politicamente corretos e cheios de medo e dúvida, a ousadia de sua palavra será farol a iluminar os breus daqueles que acreditam e buscam forças e fé no intento de viver mais plenamente a vida que lhe cabe. Caio, o adolescente ousado, o adulto afiado e sem barreiras, foi o melhor exemplo para o Caio escritor, um desses seres especiais e únicos que marcam, a ferro,fogo e felicidade aqueles que tiveram a felicidade de conhecê-lo ou de carregá-lo nas pastas e mochilas. Cada livro de Caio é uma porta de entrada à epifanias verdadeiras. Se você não o leu na íntegra, não perca a oportunidade de.
*Luciano Alabarse é diretor de teatro e amigo da vida inteira de Caio Fernando Abreu.
 

"Você sabe, estou saindo de um momento muito escuro, então tenho procurado não deixar que as minhas dores pessoais — do meu ponto de vista: enormes — interfiram no meu viver objetivo."
Caio Fernando Abreu
 
Jornalista
(por Paula Dip)
A moçada que fazia footing na Rua da Praia, point da juventude gaúcha no final dos anos 60 conhecia bem a figura irreverente de Caio Fernando Abreu, estudante de Letras da UFRGS, em Porto Alegre. Ele era quieto, mas chamava a atenção: alto, magro, sempre vestido de preto, cabelos longos, meio beatnik, meio punk. Havia uma efervescência no ar e os jovens se dividiam entre os “engajados” que faziam militância política contra a ditadura e os “alienados” festeiros que gostavam de rock and roll.
Caio era um dos poucos que circulava entre as duas facções: inteligente, ousado e atrevido, freqüentava teatro, exposições. E surpreendeu muita gente quando se inscreveu e foi escolhido num concurso para trabalhar na revista Veja, pois não fazia parte do grupo de jovens aspirantes ao jornalismo: sempre disse que era escritor.
Foi assim, numa virada do destino, que o menino escritor de Santiago do Boqueirão virou jornalista. Na foto oficial dos escolhidos em todo o Brasil para criar a revista semanal, pouco atrás de Mino Carta (frente, centro) Caio já se destacava daquela homogeneidade: aos 19 anos, tinha barba cerrada, olheiras discretas e vivia com um maço de Minister na mão. Fez poucos amigos e quase não abria a boca, pois sua voz demorou a engrossar. Nunca se apaixonou pelo jornalismo, mas admitiu que o exercício ensinou-o a secar a forma, enxugar o texto: “Sempre tive tendência a ser excessivo”.
Em 1968 morava no centro de São Paulo, num apê de paredes cor de rosa que entre seus habitantes tinha um cara que dormia com uma cobra no banheiro. A imagem parece bizarra, mas a bem da verdade, a vida de Caio sempre foi mais cinematográfica do que jornalística. Viver em São Paulo como jornalista também o liberou para circular num meio mais amplo de escritores e artistas que participavam em peso de atos de oposição à ditadura. Sua fina estampa logo chamou a atenção dos milicos que mandavam fotografar as passeatas; ele foi fichado no DOPS e quando saiu da revista refugiou-se na Casa do Sol, da escritora Hilda Hilst, que exerceria grande influência em sua vida.
Não por suas convicções políticas, que nunca definiram seu caráter, mas por sua fé na escrita, a partir daí Caio nunca mais teria um porto seguro, no jornalismo, na literatura, nem nas cidades onde viveu. Cigano, morou em São Paulo, Campinas, Rio de Janeiro, Estocolmo, Londres, Paris. Viajou pelo Brasil e o mundo atrás de suas histórias.
 
 
"Uma coisa é certa: está tudo errado!"
Caio Fernando Abreu
 
Manteve um diário durante toda a vida e definiu-se como um autor que procura suas personagens on the road, como Jack Kerouac. Lavou pratos, fez faxina, foi operário e modelo em cursos de artes plásticas e sempre precisou trabalhar para ganhar seu sustento em jornais e revistas, atividade que ele comparava a “fazer biscate”.
Tudo o que sempre quis foi “um pouco de paz” para se dedicar apenas a escrever seus contos, poemas e peças de teatro. Dividido entre reportagens e fechamentos de revistas e jornais ele publicou mais de uma dezena de livros, alguns escritos nas redações onde ganhava o pão de cada dia. Foi numa dessas redações que nos encontramos nos anos 80: eu era praticamente “foca” (principiante em gíria jornalística) e Caio já tinha livros publicados e havia morado na Europa. Ainda não assinava Caio F. e começava a escrever os contos de Morangos mofados, seu livro definitivo.
As redações não eram informatizadas: batucávamos nossos suados artigos numa incessante artilharia de máquinas de escrever de tipos metálicos que ricocheteava em nossos tímpanos até o anoitecer. Ele adorava escrever aos amigos e até hoje guardo  suas cartas e o primeiro bilhete que ele me mandou, em que praticamente se convidava para ir à minha festa de aniversário. É claro que ele foi à festa e daí por diante viramos amigos de infância. Levei um tempo para desvendar o enigma daquela figura longilínea que falava de assuntos seriíssimos com a elegância de um filósofo platônico, e, de repente, soava como uma tia fofoqueira, uma “naja” venenosa, que distribuía apelidos hilários e fazia comentários picantes sobre tudo e todos. Tinha um humor fútil, delicioso e indestrutível. Mas podia ser a pessoa mais mal humorada do mundo especialmente ao acordar. A partir da nossa correspondência publiquei em 2009 o livro “Para sempre teu, Caio F.” que já está na terceira edição e deve virar filme até o final desse ano. O livro começa assim: “Ele era alto, magro, pernas longas, pés descalços e caminhava pelos corredores da editora num ritmo quase baiano, não fosse gaúcho. Jeans, camiseta, óculos redondinhos, lembrava John Lennon. Fumava muito, roia as unhas e passava a mão no cabelo. Tinha uma voz grave e articulava as palavras, saboreando-as lentamente... Éramos jovens jornalistas ganhando a vida nas redações”.
Caio mudou minha trajetória, coloriu minhas sinapses, incentivou meu namoro com as letras, acrescentou poesia à minha vida. Para ele, trabalhar na imprensa era “costurar para fora” um emprego banal, como tantos outros, apenas para pagar o aluguel. Sua atitude cética em relação ao jornalismo me contagiou. Apesar de ser jornalista, sempre acreditei mais na literatura do que na imprensa.
Jornalista ou escritor ele era um amigão. Fazia horóscopos, interpretava tarôs, foi uma das pessoas mais místicas que conheci. Tinha absoluta certeza de que nosso encontro na redação de uma revista estava escrito nas estrelas.
Como costuma acontecer entre colegas de profissão, quando eu precisava de emprego ele dava um jeito de me chamar para trabalhar com ele e vice-versa. Em 84 convidei-o para editar a revista Around, magazine moderninho dos anos 80 que depois se chamou AZ, e, que ao contrário de veículos mais tradicionais lhe deu espaço para expressar sua veia literária. Em 86, quando eu trabalhava na BBC de Londres, ele estava no Caderno 2 do jornal O Estado de S. Paulo, e me convidou  para escrever uma coluna que adorei fazer, “Carta de Londres”. Em 91 ele veio trabalhar comigo numa revista de música. Finalmente, em 1992 ganhou uma bolsa de estudos e foi viver durante três meses na cidade de Saint Nazaire, França, na Maison des Écrivains et Traducteurs Étrangers.
Só então, quatro anos antes de nos deixar, ele realizou seu sonho de ser apenas escritor. Nessa ocasião seus livros começaram a ser traduzidos em vários idiomas e ele vivia sendo convidado a participar de congressos e lançamentos por toda a Europa e viajava sem parar. “Toda Benedita tem seu dia de Lady Di”, ironizava.
Em 1994, ao ser diagnosticado portador do vírus da Aids, voltou para a casa da família em Porto Alegre, onde cultivou um jardim de rosas com o pai e dedicou-se a rever sua obra, publicar novos livros e reeditar antigos. Jornalista até o fim continuou a enviar suas crônicas cada vez mais tocantes para os jornais.
Pouco antes de morrer, em 25 de fevereiro de 1996, lhe perguntaram numa entrevista o que gostaria de ter sido se não escritor, e ele respondeu sem pestanejar: “Jardineiro”
* Paula Dip é jornalista, escritora, autora de “Para Sempre teu, Caio F.”, livro que roteirizou e está sendo filmado em parceria com o diretor de cinema Candé Salles. Trabalha num novo livro sobre a relação literária entre Caio F. e Hilda Hilst.
 

"Claro, sonhos quebrados sempre doem. Mas talvez seja mais saudável contemplar os cacos e tentar compreender o quebra-cabeças do que comprar uma passagem para a Disneylândia."
Caio Fernando Abreu
 
Dramaturgo
(por Marcos Breda)
Caio Fernando Abreu é considerado por muita, muita gente, como um dos mais brilhantes escritores da literatura brasileira contemporânea. Sua obra é um riquíssimo painel onde paixão, lucidez, devaneio, desejo, dor, prazer, solidão, humor, inteligência, ironia, reflexão, transgressão e, sobretudo, Amor (assim, maiúsculo) mesclam-se num amálgama único e arrebatador. Não por acaso sua obra vem conquistando mais e mais leitores/admiradores/parceiros/cúmplices de todas as idades - em muitos países e idiomas - num ritmo vertiginoso, ainda mais acentuado depois de sua precoce partida.
O que muita, muita gente ainda não sabe é que a ficção que escreveu não era apenas narrativa, épica. Caio também escrevia literatura dramática. Excelente literatura dramática, diga-se de passagem, embora menor - em termos puramente quantitativos - do que sua caudalosa vertente de contos, novelas e romances.
São seis peças - uma delas infantil - e mais duas compilações de quadros & cenas curtas. Pode parecer pouco para este verdadeiro artista da ribalta. alguém que sempre assistiu, curtiu, escreveu e/ou atuo u em teatro, além de fazer parte de toda uma geração de talentosos teatreiros da efervescente Porto Alegre do final da década de 60.
Entretanto, uma leitura atenta do livro "Caio Fernando Abreu - Teatro Completo" - que reúne toda a produção dramática do autor - revelará um demiurgo da cena, com códigos & conteúdos & carpintaria absolutamente próprios e inconfundíveis.  E, melhor de tudo, textos de altíssima qualidade. O teatro de Caio Fernando Abreu merece ser re-descoberto por estudiosos, autores, diretores e, principalmente, atores ávidos por personagens instigantes, complexos e profundamente desafiadores. Privilégio dos profissionais de teatro ao ter em mãos um material de tal magnitude. Privilégio ainda maior do público, ao ter acesso a mais esta vertente de um dos mais geniais artistas de nosso tempo.
Platéia lotada, terceiro sinal, black out, silêncio, cortinas abertas, aplausos: bem-vindos ao Teatro (assim, maiúsculo) de  Caio Fernando Abreu.
*Marcos Breda é ator, locutor, professor universitário, produtor teatral e foi muito amigo do nosso querido Caio Fernando Abreu.
 
 
"Não choro minhas perdas, nem temo a inveja e o olho gordo que me rodeiam. Sou de Deus, quem não é que se cuide!"
Caio Fernando Abreu
 
Obras
             Semana de Artes Modernas
             Inventário do Irremediável, contos;
             Limite Branco, romance;
             O Ovo Apunhalado, contos;
             Pedras de Calcutá, contos;
             Morangos Mofados, contos;
             Triângulo das Águas, novelas;
             As Frangas, novela infanto-juvenil;
             Os Dragões não conhecem o Paraíso, contos;
             A Maldição do Vale Negro, peça teatral;
             Onde Andará Dulce Veiga?, romance;
             Bien loin de Marienbad, novela;
             Ovelhas Negras, contos;
             Mel & Girassóis, antologia;
             Estranhos Estrangeiros, contos;
             Pequenas Epifanias, crônicas;
             Teatro Completo;
             Cartas, correspondência;
             Dov'è finita Dulce Veiga, romance;
             Molto lontano da Marienbad, contos;
             I Draghi non conoscono il Paradiso, contos;
             Pra sempre teu, Caio F.
 

"Imaginem um mundo de coisas limpas e bonitas, onde a gente não seja obrigado a fugir, fingir ou mentir, onde a gente não tenha medo nem se sinta confuso (não haverá a palavra nem a coisa confusão, porque tudo será nítido e claro), onde as pessoas não se machuquem umas às outras, onde o que a gente é apareça nos olhos, na expressão do rosto, em todos os movimentos — acrescentem a esse mundo os detalhes que vocês quiserem (eu me satisfaço com um rio, macieiras carregadas, alguns plátanos e uma colina — ou coxilha, como se diz aqui no Sul — no horizonte), depois convidem pessoas azuis para se darem as mãos e fazerem uma grande concentração para concretizar esse mundo — e, então, quando ele estiver pronto, novo e reluzente como se tivesse sido envernizado, então nós nos encontraremos lá e eu não precisarei explicar nada, nem contar nenhuma estória escura, porque estórias claras estarão acontecendo à nossa volta e nós estaremos sendo aquilo que somos, sem nenhuma dureza, e o que fomos ficou dependurado em algum armário embutido, junto com sapatos (quem precisará deles para pisar na grama limpa dessa terra?), roupas e enfeites (quem precisará de panos, contas ou cores na terra onde o ar será colorido e enfeitará nossos corpos?)— lá, eu digo, nós nos encontraremos entre centauros, sereias, unicórnios e duendes, e sem dizer nada, com um olhar verde (uma das minhas grandes frustrações sempre foi não ter olho verde — mas lá eu terei) eu direi o quanto gosto de vocês, e voaremos de tanta boniteza — combinado?"
Caio Fernando Abreu
 
Teatro
             O Homem e a Mancha
             Zona Contaminada
 
Tradução
             A Arte da Guerra, de Sun Tzu, 1995 (com Miriam Paglia).
             A Balada do Café Triste, de Carson McCullers, 1991.
 
Prêmios
1968 - Menção honrosa do Prêmio José Lins do Rego, para o conto Três tempos mortos.
1969 - Prêmio Fernando Chinaglia da União Brasileira de escritores, pelo livro Inventário do irremediável.
1972 - Prêmio do Instituto Estadual do Livro para o conto Visita.
1973 - O ovo apunhalado recebe menção honrosa do Prêmio Nacional de Ficção.
1975 - O ovo apunhalado é reconhecido pela Veja como um dos melhores livros do ano. E a peça Pode ser que seja só o leiteiro lá fora recebe o Prêmio Leitura do SNT.
1980 - Prêmio Status de Literatura para o conto Sargento Garcia.
1984 - Triângulo das águas ganha o prêmio Jabuti.
1988 - Os dragões não conhecem o paraíso recebe prêmio Jabuti.
1989 - Prêmio Molière pela co-autoria de A maldição do Vale Negro.
1991 - Onde Andará Dulce Veiga? recebe prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte.
1996 - Ovelhas Negras recebe o Prêmio Jabuti.
2001 - As frangas recebe Medalha de Leitura Altamente Recomendável da Fundação Nacional do Livro Infanto-juvenil.
 
 
 
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Desenho de Minga Blanco

 "Parecia que o tempo não passava nunca. Mas passou. O tempo sempre passa, essa é a única certeza que a gente tem. Fora a morte, é claro. Mas hoje não quero pensar na morte. Quero pensar é na vida. Na minha nova vida."
Caio Fernando Abreu