domingo, 17 de fevereiro de 2013

Caio Fernando Abreu

 
 
"Descobri — numa carta de Clarice Lispector para Lucio Cardoso — que polisipo, em grego, significa “pausa na dor”. Têm sido, estes dias, polisipos."
Caio Fernando Abreu
 
Caio Fernando Loureiro de Abreu
(Santiago, 12 de setembro de 1948 — Porto Alegre, 25 de fevereiro de 1996)
foi um jornalista, dramaturgo e escritor brasileiro.
 
Apontado como um dos expoentes de sua geração, a obra de Caio Fernando Abreu, escrita num estilo econômico e bem pessoal, fala de sexo, de medo, de morte e, principalmente, de angustiante solidão. Apresenta uma visão dramática do mundo moderno e é considerado um "fotógrafo da fragmentação contemporânea".
 
 
"São os atos e não as palavras que podem salvar."
Caio Fernando Abreu
 
Biografia
Caio Fernando Abreu estudou Letras e Artes Cênicas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde foi colega de João Gilberto Noll. No entanto, ele abandonou ambos os cursos para trabalhar como jornalista de revistas de entretenimento, tais como Nova, Manchete, Veja e Pop, além de colaborar com os jornais Correio do Povo, Zero Hora, Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo.
Em 1968, perseguido pelo Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), Caio refugiou-se no sítio de uma amiga, a escritora Hilda Hilst, em Campinas, São Paulo. No início da década de 1970, ele se exilou por um ano na Europa, morando, respectivamente, na Espanha, na Suécia, nos Países Baixos, na Inglaterra e na França.
Em 1974, Caio Fernando Abreu retornou a Porto Alegre. Chegou a ser visto na Rua da Praia usando brincos nas duas orelhas e uma bata de veludo, com o cabelo pintado de vermelho. Em 1983, mudou-se para o Rio de Janeiro e, em 1985, para São Paulo. A convite da Casa dos Escritores Estrangeiros, ele voltou à França em 1994, regressando ao Brasil no mesmo ano, ao descobrir-se portador do vírus HIV. Abreu era declaradamente homossexual em plena época da Ditadura Militar no Brasil.
Em 1995, Caio Fernando Abreu se tornou patrono da 41.° Feira do Livro de Porto Alegre.
Um ano depois, Caio Fernando Abreu voltou a viver novamente com seus pais, tempo durante o qual se dedicaria à jardinagem, cuidando de roseiras. Faleceu em 25 de fevereiro de 1996,Hospital Mãe de Deus em Porto Alegre, no mesmo dia em que Mário de Andrade. Seus restos mortais jazem no Cemitério São Miguel e Almas.
 

"Me conta de ti. Não devemos-nos perder, somos tão poucos, meu amigo. Cuide de você, não sofra sem necessidade, me queira bem. Te quero bem."
Caio Fernando Abreu
 
Escritor
(por Luciano Alabarse)
Como Clarice Lispector,  Caio Fernando Abreu pertence ao grupo dos escritores que transcendem a literatura. Suas palavras, elaboradas, lapidadas, fruto de grande trabalho intelectual, não cabem na folha branca, onde tudo começa para um ourives da linguagem escrita. Caio escreveu para a vida mesma de seus inúmeros leitores, quer incidir no comportamento de quem o lê, revirar certezas absolutas, introduzir a transformação catártica daqueles que buscam sua obra. É uma obra vasta, diga-se. Contista de mão cheia, alguns de seus livros mais importantes trazem alguns dos contos mais surpreendentes da língua portuguesa. Na sua literatura, cabe tudo - menos a caretice enrijecida do olhar monocromático de quem tem suas certezas asseguradas em defesas comportamentais. Caio quer o salto sem rede, o precipício, o perigo iminente. Sua rede de segurança é a sinceridade humana possível, único elemento que pode redimir e redimensionar a vida que nos cabe. É esse o traço mais impactante de sua escritura: a sinceridade absoluta, a cumplicidade com todos os eus possíveis do ser humano, um olhar de atrevida compaixão pelas mazelas dos deserdados, a simpatia sem reserva pelos excluídos da vida perene. Caio tem a palavra como estilete afiado a cortar mediocridades defensivas, parágrafos inúteis, gente que olha sem ver o que o vasto mundo cruel oferece a cada um. Contista, cronista, novelista, transitava bem entre todos os gêneros, e não se prendia a nenhum, imprimindo excelência e humanidade em todos os parágrafos com sua assinatura.
Muitas vezes vi Caio caminhando pelo sobrado do bairro Menino Deus, aonde o visitei durante todos os anos de sua vida. Era bastante comum que me lesse em voz alta o resultado do seu trabalho. Era o seu método preferido de chegar à redação final daquilo que escrevia: ler em voz alta. Queria a sonoridade perfeita, o fluxo acertado, a elipse reveladora, o adjetivo sem adornos que valorizasse a narrativa.  Talvez por isso sua palavra seja tão adaptável ao palco do teatro, mesmo quando não escrita especificamente para tal fim. Cru, cruel, generoso, excessivo, desafiava a neutralidade que regra boa parte do que se escreve no Brasil. Queria a página viva, a letra pulsante, o verbo sagrado, a forma adequada para valorizar aquilo que lhe era a mais humano de todas as nossas características: a busca, o caminho, a procura de. Caio era aluno e professor, sujeito e objeto, consciente e intuitivo, sofisticado e popular, engraçado e depressivo. Em seus inúmeros livros publicados, desde o início, acreditou na comunicação direta e imediata com o leitor. Não por acaso, tantos anos depois de sua morte, sua obra tem sido ainda mais valorizada do que antes. É impressionante a identificação das gerações posteriores a ele, e que, sem conhecê-lo vivo, trata de manter viva sua obra.
Caio escreveu compulsivamente, viveu compulsivamente e morreu desejando continuar a escrever. A literatura, para ele, era matéria viva em direção ao conhecimento do mais obscuro sentimento, a revelar a impossível possibilidade de roçar a eternidade. Guardava seus rascunhos, seus cadernos, suas frases seminais: tudo era passível de virar obra viva, a partir de sua satisfação com o resultado buscado. Poucos escritores brasileiros têm, em seu currículo, essa admiração entre seus leitores. Poucos certamente escapam de uma forma esvaziada de pulsação vital.  Sua excruciante sinceridade é o que explica essa identificação, inclusive com gerações posteriores. Fruto de seu tempo, sim, mas com o prazo de validade extremamente esgarçado e sem data de vencimento, a literatura de Caio Fernando Abreu revela o homem que ele foi, o cidadão atento ao seu mundo, imerso nas convulsões comportamentais que sacudiram o mundo em suas décadas de adolescente. Obcecado pela qualidade estética, nunca deixou que sua palavra ficasse estéril. Não tenho dúvida de que, nesses tempos politicamente corretos e cheios de medo e dúvida, a ousadia de sua palavra será farol a iluminar os breus daqueles que acreditam e buscam forças e fé no intento de viver mais plenamente a vida que lhe cabe. Caio, o adolescente ousado, o adulto afiado e sem barreiras, foi o melhor exemplo para o Caio escritor, um desses seres especiais e únicos que marcam, a ferro,fogo e felicidade aqueles que tiveram a felicidade de conhecê-lo ou de carregá-lo nas pastas e mochilas. Cada livro de Caio é uma porta de entrada à epifanias verdadeiras. Se você não o leu na íntegra, não perca a oportunidade de.
*Luciano Alabarse é diretor de teatro e amigo da vida inteira de Caio Fernando Abreu.
 

"Você sabe, estou saindo de um momento muito escuro, então tenho procurado não deixar que as minhas dores pessoais — do meu ponto de vista: enormes — interfiram no meu viver objetivo."
Caio Fernando Abreu
 
Jornalista
(por Paula Dip)
A moçada que fazia footing na Rua da Praia, point da juventude gaúcha no final dos anos 60 conhecia bem a figura irreverente de Caio Fernando Abreu, estudante de Letras da UFRGS, em Porto Alegre. Ele era quieto, mas chamava a atenção: alto, magro, sempre vestido de preto, cabelos longos, meio beatnik, meio punk. Havia uma efervescência no ar e os jovens se dividiam entre os “engajados” que faziam militância política contra a ditadura e os “alienados” festeiros que gostavam de rock and roll.
Caio era um dos poucos que circulava entre as duas facções: inteligente, ousado e atrevido, freqüentava teatro, exposições. E surpreendeu muita gente quando se inscreveu e foi escolhido num concurso para trabalhar na revista Veja, pois não fazia parte do grupo de jovens aspirantes ao jornalismo: sempre disse que era escritor.
Foi assim, numa virada do destino, que o menino escritor de Santiago do Boqueirão virou jornalista. Na foto oficial dos escolhidos em todo o Brasil para criar a revista semanal, pouco atrás de Mino Carta (frente, centro) Caio já se destacava daquela homogeneidade: aos 19 anos, tinha barba cerrada, olheiras discretas e vivia com um maço de Minister na mão. Fez poucos amigos e quase não abria a boca, pois sua voz demorou a engrossar. Nunca se apaixonou pelo jornalismo, mas admitiu que o exercício ensinou-o a secar a forma, enxugar o texto: “Sempre tive tendência a ser excessivo”.
Em 1968 morava no centro de São Paulo, num apê de paredes cor de rosa que entre seus habitantes tinha um cara que dormia com uma cobra no banheiro. A imagem parece bizarra, mas a bem da verdade, a vida de Caio sempre foi mais cinematográfica do que jornalística. Viver em São Paulo como jornalista também o liberou para circular num meio mais amplo de escritores e artistas que participavam em peso de atos de oposição à ditadura. Sua fina estampa logo chamou a atenção dos milicos que mandavam fotografar as passeatas; ele foi fichado no DOPS e quando saiu da revista refugiou-se na Casa do Sol, da escritora Hilda Hilst, que exerceria grande influência em sua vida.
Não por suas convicções políticas, que nunca definiram seu caráter, mas por sua fé na escrita, a partir daí Caio nunca mais teria um porto seguro, no jornalismo, na literatura, nem nas cidades onde viveu. Cigano, morou em São Paulo, Campinas, Rio de Janeiro, Estocolmo, Londres, Paris. Viajou pelo Brasil e o mundo atrás de suas histórias.
 
 
"Uma coisa é certa: está tudo errado!"
Caio Fernando Abreu
 
Manteve um diário durante toda a vida e definiu-se como um autor que procura suas personagens on the road, como Jack Kerouac. Lavou pratos, fez faxina, foi operário e modelo em cursos de artes plásticas e sempre precisou trabalhar para ganhar seu sustento em jornais e revistas, atividade que ele comparava a “fazer biscate”.
Tudo o que sempre quis foi “um pouco de paz” para se dedicar apenas a escrever seus contos, poemas e peças de teatro. Dividido entre reportagens e fechamentos de revistas e jornais ele publicou mais de uma dezena de livros, alguns escritos nas redações onde ganhava o pão de cada dia. Foi numa dessas redações que nos encontramos nos anos 80: eu era praticamente “foca” (principiante em gíria jornalística) e Caio já tinha livros publicados e havia morado na Europa. Ainda não assinava Caio F. e começava a escrever os contos de Morangos mofados, seu livro definitivo.
As redações não eram informatizadas: batucávamos nossos suados artigos numa incessante artilharia de máquinas de escrever de tipos metálicos que ricocheteava em nossos tímpanos até o anoitecer. Ele adorava escrever aos amigos e até hoje guardo  suas cartas e o primeiro bilhete que ele me mandou, em que praticamente se convidava para ir à minha festa de aniversário. É claro que ele foi à festa e daí por diante viramos amigos de infância. Levei um tempo para desvendar o enigma daquela figura longilínea que falava de assuntos seriíssimos com a elegância de um filósofo platônico, e, de repente, soava como uma tia fofoqueira, uma “naja” venenosa, que distribuía apelidos hilários e fazia comentários picantes sobre tudo e todos. Tinha um humor fútil, delicioso e indestrutível. Mas podia ser a pessoa mais mal humorada do mundo especialmente ao acordar. A partir da nossa correspondência publiquei em 2009 o livro “Para sempre teu, Caio F.” que já está na terceira edição e deve virar filme até o final desse ano. O livro começa assim: “Ele era alto, magro, pernas longas, pés descalços e caminhava pelos corredores da editora num ritmo quase baiano, não fosse gaúcho. Jeans, camiseta, óculos redondinhos, lembrava John Lennon. Fumava muito, roia as unhas e passava a mão no cabelo. Tinha uma voz grave e articulava as palavras, saboreando-as lentamente... Éramos jovens jornalistas ganhando a vida nas redações”.
Caio mudou minha trajetória, coloriu minhas sinapses, incentivou meu namoro com as letras, acrescentou poesia à minha vida. Para ele, trabalhar na imprensa era “costurar para fora” um emprego banal, como tantos outros, apenas para pagar o aluguel. Sua atitude cética em relação ao jornalismo me contagiou. Apesar de ser jornalista, sempre acreditei mais na literatura do que na imprensa.
Jornalista ou escritor ele era um amigão. Fazia horóscopos, interpretava tarôs, foi uma das pessoas mais místicas que conheci. Tinha absoluta certeza de que nosso encontro na redação de uma revista estava escrito nas estrelas.
Como costuma acontecer entre colegas de profissão, quando eu precisava de emprego ele dava um jeito de me chamar para trabalhar com ele e vice-versa. Em 84 convidei-o para editar a revista Around, magazine moderninho dos anos 80 que depois se chamou AZ, e, que ao contrário de veículos mais tradicionais lhe deu espaço para expressar sua veia literária. Em 86, quando eu trabalhava na BBC de Londres, ele estava no Caderno 2 do jornal O Estado de S. Paulo, e me convidou  para escrever uma coluna que adorei fazer, “Carta de Londres”. Em 91 ele veio trabalhar comigo numa revista de música. Finalmente, em 1992 ganhou uma bolsa de estudos e foi viver durante três meses na cidade de Saint Nazaire, França, na Maison des Écrivains et Traducteurs Étrangers.
Só então, quatro anos antes de nos deixar, ele realizou seu sonho de ser apenas escritor. Nessa ocasião seus livros começaram a ser traduzidos em vários idiomas e ele vivia sendo convidado a participar de congressos e lançamentos por toda a Europa e viajava sem parar. “Toda Benedita tem seu dia de Lady Di”, ironizava.
Em 1994, ao ser diagnosticado portador do vírus da Aids, voltou para a casa da família em Porto Alegre, onde cultivou um jardim de rosas com o pai e dedicou-se a rever sua obra, publicar novos livros e reeditar antigos. Jornalista até o fim continuou a enviar suas crônicas cada vez mais tocantes para os jornais.
Pouco antes de morrer, em 25 de fevereiro de 1996, lhe perguntaram numa entrevista o que gostaria de ter sido se não escritor, e ele respondeu sem pestanejar: “Jardineiro”
* Paula Dip é jornalista, escritora, autora de “Para Sempre teu, Caio F.”, livro que roteirizou e está sendo filmado em parceria com o diretor de cinema Candé Salles. Trabalha num novo livro sobre a relação literária entre Caio F. e Hilda Hilst.
 

"Claro, sonhos quebrados sempre doem. Mas talvez seja mais saudável contemplar os cacos e tentar compreender o quebra-cabeças do que comprar uma passagem para a Disneylândia."
Caio Fernando Abreu
 
Dramaturgo
(por Marcos Breda)
Caio Fernando Abreu é considerado por muita, muita gente, como um dos mais brilhantes escritores da literatura brasileira contemporânea. Sua obra é um riquíssimo painel onde paixão, lucidez, devaneio, desejo, dor, prazer, solidão, humor, inteligência, ironia, reflexão, transgressão e, sobretudo, Amor (assim, maiúsculo) mesclam-se num amálgama único e arrebatador. Não por acaso sua obra vem conquistando mais e mais leitores/admiradores/parceiros/cúmplices de todas as idades - em muitos países e idiomas - num ritmo vertiginoso, ainda mais acentuado depois de sua precoce partida.
O que muita, muita gente ainda não sabe é que a ficção que escreveu não era apenas narrativa, épica. Caio também escrevia literatura dramática. Excelente literatura dramática, diga-se de passagem, embora menor - em termos puramente quantitativos - do que sua caudalosa vertente de contos, novelas e romances.
São seis peças - uma delas infantil - e mais duas compilações de quadros & cenas curtas. Pode parecer pouco para este verdadeiro artista da ribalta. alguém que sempre assistiu, curtiu, escreveu e/ou atuo u em teatro, além de fazer parte de toda uma geração de talentosos teatreiros da efervescente Porto Alegre do final da década de 60.
Entretanto, uma leitura atenta do livro "Caio Fernando Abreu - Teatro Completo" - que reúne toda a produção dramática do autor - revelará um demiurgo da cena, com códigos & conteúdos & carpintaria absolutamente próprios e inconfundíveis.  E, melhor de tudo, textos de altíssima qualidade. O teatro de Caio Fernando Abreu merece ser re-descoberto por estudiosos, autores, diretores e, principalmente, atores ávidos por personagens instigantes, complexos e profundamente desafiadores. Privilégio dos profissionais de teatro ao ter em mãos um material de tal magnitude. Privilégio ainda maior do público, ao ter acesso a mais esta vertente de um dos mais geniais artistas de nosso tempo.
Platéia lotada, terceiro sinal, black out, silêncio, cortinas abertas, aplausos: bem-vindos ao Teatro (assim, maiúsculo) de  Caio Fernando Abreu.
*Marcos Breda é ator, locutor, professor universitário, produtor teatral e foi muito amigo do nosso querido Caio Fernando Abreu.
 
 
"Não choro minhas perdas, nem temo a inveja e o olho gordo que me rodeiam. Sou de Deus, quem não é que se cuide!"
Caio Fernando Abreu
 
Obras
             Semana de Artes Modernas
             Inventário do Irremediável, contos;
             Limite Branco, romance;
             O Ovo Apunhalado, contos;
             Pedras de Calcutá, contos;
             Morangos Mofados, contos;
             Triângulo das Águas, novelas;
             As Frangas, novela infanto-juvenil;
             Os Dragões não conhecem o Paraíso, contos;
             A Maldição do Vale Negro, peça teatral;
             Onde Andará Dulce Veiga?, romance;
             Bien loin de Marienbad, novela;
             Ovelhas Negras, contos;
             Mel & Girassóis, antologia;
             Estranhos Estrangeiros, contos;
             Pequenas Epifanias, crônicas;
             Teatro Completo;
             Cartas, correspondência;
             Dov'è finita Dulce Veiga, romance;
             Molto lontano da Marienbad, contos;
             I Draghi non conoscono il Paradiso, contos;
             Pra sempre teu, Caio F.
 

"Imaginem um mundo de coisas limpas e bonitas, onde a gente não seja obrigado a fugir, fingir ou mentir, onde a gente não tenha medo nem se sinta confuso (não haverá a palavra nem a coisa confusão, porque tudo será nítido e claro), onde as pessoas não se machuquem umas às outras, onde o que a gente é apareça nos olhos, na expressão do rosto, em todos os movimentos — acrescentem a esse mundo os detalhes que vocês quiserem (eu me satisfaço com um rio, macieiras carregadas, alguns plátanos e uma colina — ou coxilha, como se diz aqui no Sul — no horizonte), depois convidem pessoas azuis para se darem as mãos e fazerem uma grande concentração para concretizar esse mundo — e, então, quando ele estiver pronto, novo e reluzente como se tivesse sido envernizado, então nós nos encontraremos lá e eu não precisarei explicar nada, nem contar nenhuma estória escura, porque estórias claras estarão acontecendo à nossa volta e nós estaremos sendo aquilo que somos, sem nenhuma dureza, e o que fomos ficou dependurado em algum armário embutido, junto com sapatos (quem precisará deles para pisar na grama limpa dessa terra?), roupas e enfeites (quem precisará de panos, contas ou cores na terra onde o ar será colorido e enfeitará nossos corpos?)— lá, eu digo, nós nos encontraremos entre centauros, sereias, unicórnios e duendes, e sem dizer nada, com um olhar verde (uma das minhas grandes frustrações sempre foi não ter olho verde — mas lá eu terei) eu direi o quanto gosto de vocês, e voaremos de tanta boniteza — combinado?"
Caio Fernando Abreu
 
Teatro
             O Homem e a Mancha
             Zona Contaminada
 
Tradução
             A Arte da Guerra, de Sun Tzu, 1995 (com Miriam Paglia).
             A Balada do Café Triste, de Carson McCullers, 1991.
 
Prêmios
1968 - Menção honrosa do Prêmio José Lins do Rego, para o conto Três tempos mortos.
1969 - Prêmio Fernando Chinaglia da União Brasileira de escritores, pelo livro Inventário do irremediável.
1972 - Prêmio do Instituto Estadual do Livro para o conto Visita.
1973 - O ovo apunhalado recebe menção honrosa do Prêmio Nacional de Ficção.
1975 - O ovo apunhalado é reconhecido pela Veja como um dos melhores livros do ano. E a peça Pode ser que seja só o leiteiro lá fora recebe o Prêmio Leitura do SNT.
1980 - Prêmio Status de Literatura para o conto Sargento Garcia.
1984 - Triângulo das águas ganha o prêmio Jabuti.
1988 - Os dragões não conhecem o paraíso recebe prêmio Jabuti.
1989 - Prêmio Molière pela co-autoria de A maldição do Vale Negro.
1991 - Onde Andará Dulce Veiga? recebe prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte.
1996 - Ovelhas Negras recebe o Prêmio Jabuti.
2001 - As frangas recebe Medalha de Leitura Altamente Recomendável da Fundação Nacional do Livro Infanto-juvenil.
 
 
 
 - * - * - * - * - * - * - * - * -
 
Desenho de Minga Blanco

 "Parecia que o tempo não passava nunca. Mas passou. O tempo sempre passa, essa é a única certeza que a gente tem. Fora a morte, é claro. Mas hoje não quero pensar na morte. Quero pensar é na vida. Na minha nova vida."
Caio Fernando Abreu
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário