Nos brados
de um quero-quero
(Diego Müller)
Se esvai a tarde, em lançante, redesenhando seus
lumes,
Trazendo a d´alva de tiro, a mesclar-se aos
vaga-lumes...
...Alma em brilhos veraneiros, contraponteando a
mirada
Que se perde – allá,
lo lejos – fitando onde vai a estrada!
E o mate se adoça aos poucos – salvo à flor da
maçanilha –
Que colhi, por lembrar dela, nos repechos da
coxilha...
E um quero-quero matreiro dá sinal de ovo no ninho,
Atiçando meus olhares – ante um silenciar sozinho!
Feito um alerta altivo, a denunciar – sentinela –
O que espreitam meus anseios, bombeando além da janela...
Onde a retina, insistente, se arrasta no entardecer,
Repetindo – dia-a-dia – as fisgadas de um bem-querer!
– Resquícios!... que aperta o peito, quando outra feita, em seu brado,
Anunciou – perante a estrada – que ela foi num sonho alado...
Como reclamando – inquieto – a falta da despedida,
Por endureceu seus prantos... inspirando a sua partida!
Ilusões dos corredores: de que partir é caminho!...
Ilusões dos sentimentos: de que nunca estou
sozinho!...
...Há o canto – picaço-overo – a cuidar o seu condado,
Mas não vigiando meus rumos – que inda nega o já acabado!
...Por isso comparo a cena ao que o coração me alerta,
Que a saudade é um quero-quero nas guardas que me
desperta:
Anunciando que o recuerdo chega, apontando à estrada,
Querendo o que se foi nela... – Mirando! ...E não vendo nada!!!
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(L: Diego Muller/Binho Pires - M: Érlon Péricles - Gauderiada da canção-2012)
Quero-quero
ou abibe-do-sul (Portugal)
[Vanellus chilensis (Molina, 1782)]
Também conhecido por tetéu, téu-téu, terém-terém e espanta-boiada, é uma ave da ordem dos Charadriiformes, pertencendo a família dos Charadriidae.
Em espanhol é conhecido por tero común ou teru-teru, e em inglês como southern lapwing. Ocorre em toda a América do Sul e em alguns pontos da América Central, e sendo uma ave muito popular acabou por fazer parte do folclore de várias regiões.
O quero-quero é uma ave de porte médio a pequeno, com 32 a 38 cm de comprimento[4] e 300 a 320 g de peso. Não há dimorfismo sexual. Quando adulto, ostenta esporões no ângulo das asas, usados como arma de ataque e defesa. Tem plumagem negra orlada de branco na testa e na garganta, e uma larga área negra no peito. Do topo da cabeça e lados do pescoço, até o dorso, é cinza, podendo ter um tom de marrom ou azul. As escápulas têm cor de bronze, as penas externas das asas passam dos tons acinzentados junto ao corpo até o branco, terminando em um azul-escuro quase negro. Por dentro as asas são brancas com extremidades do mesmo tom escuro. A cauda repete o mesmo padrão, mas possui uma fina faixa branca na extremidade. O abdômen é branco, a íris do olho é vermelha, o bico passa do vermelho ao negro na ponta, e as patas são avermelhadas. Tem um penacho fino de cor cinza ou negra na região posterior da cabeça. As subespécies apresentam como distinção ligeiras variações nessas características. Os recém-nascidos possuem uma penugem esparsa cinza-escuro ou castanha pintalgada de negro, já apresentando a típica mancha negra no peito, com o dorso do pescoço e o baixo ventre esbranquiçados.
O quero-quero é comum em muitos países; é a ave-símbolo do Uruguai e do estado brasileiro do Rio Grande do Sul, e por isso em seu redor se formaram várias lendas, aparece em cantigas tradicionais e se tornou personagem literário e dramatúrgico. Também deu seu nome a produtos e estabelecimentos comerciais, projetos educativos e um grupo musical gauchesco.
A título de exemplo de sua popularidade, aludindo ao seu papel de sentinela dos campos - pelo que é muito estimado pelos estancieiros e fazendeiros - cite-se Rui Barbosa, que em um discurso proferido em 1914 chamou a ave de "o chantecler dos potreiros. Este pássaro curioso, a que a natureza concedeu o penacho da garça real, o vôo do corvo e a laringe do gato, tem o dom de encher os descampados e sangas das macegas e canhadas com o grito estrídulo, rechinante, profundo, onde o gaúcho descobriu a fidelíssima onomatopéia que o batiza".No terreno folclórico, pode-se trazer à memória uma quadrinha brasileira, que reza:
"Quero-quero vai voando
e os esporões vai batendo...
Quero-quero quando grita
alguma coisa está vendo!"
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Canção da bonita
(Aureliano de Figueiredo Pinto)
Campeiro! ...Prepara o laço
No campo do teu amor.
É com a bonita? ...Pois, não!
Prepara o teu coração
Que é um alazão pisa-flor!
Campeiro! ...Esporeia o tino,
Afirma bem teu olhar,
Porque a bonita é matreira:
– De tua armada certeira
Talvez, se mande escapar!
Campeiro! ...Afirma os estribos,
Regula bem o teu braço,
Porque a bonita é aragana!
Quando gaúcho se engana
Errando o tiro de laço...
Campeiro! ...Ajeita teu pingo!
Ergue na rédea, caldeia!
Cuidado! Porque a bonita,
Com ares de tambeirita,
Larga o teu laço na areia!
Campeiro! ...Prepara o laço
No campo do teu amor...
Cuidado! A bonita é braba,
E a vida as vezes se acaba
P´ra um coração pisa-flor!!!...
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"Minha força está na
solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem de grandes ventanias
soltas, pois eu também sou o escuro da noite!"
(Clarice Lispector)
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