Pala-de-crivo
(Diego Müller/Getúlio Silva)
Certa vez fui na cidade, bem pilchado – pacholento –
Levando meu pala velho de encontro com o próprio vento...
Era eu e uma pintura – andejando – por ai...
Com aquele pala no ombro... igual o do Noel Guarany!
Um ocre, meio apagado, com o crivo correndo as franjas:
Um macramê – nudo a nudo – onde a beleza se esbanja...
– Desses de cobrir o pago, por ser lindo de se ver,
Com listras costeando o pano, com as cores num degrade!
Surrou muito mal-costiado – desses “ventarrão” bagual...
Té socou feijão e milho, no velho estilo rural...
E por fula, “vendô” meu rosto, em alguma “tóra” bravia,
Gineteando de cara-atada na cancha da Vacaria!
Eram cem anos de história bajo deste pala antigo...
– Que há mais de uns quarenta e pico estava junto comigo!...
Carrega minha própria vida, com brilhos de d´alva e lua,
Cobrindo queixume de amores no calor dessas chirúas!
De muita empreitada feia me safei com ele no braço,
Tirando golpes de adagas – livrando-me de pontaço!...
Foi bandeira desfraldada na minha estampa teatina...
Serviu de forro em carpeta... e de agasalho pra china!
Por isso eu rogo à Deus – acaso alguém encontrá-lo –
Devolva meu pala-de-crivo: um dos mais lindos regalos!...
...Que ganhei d’uma prendada, outro igual não se arranja!...
– Conheço “inté” pelo aroma que exalam de suas franjas!!!
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Jean León Palliere - Tres gauchos, 1865
"Talento é mais barato que sal. O que separa a pessoa talentosa da bem-sucedida é muito trabalho duro!"
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