sábado, 10 de janeiro de 2015

A dança...

...e espontaneidade!



Nas épocas antigas da nossa dança, lá pelos inícios do Mobral, na década de 70, os concursos eram avaliados e encarados de maneira extremamente criativa e artística (apenas), onde as apresentações mais "bonitas" ganhavam os eventos e se destacavam dentre os outros. Os avaliadores eram geralmente artistas e renomados nomes do nosso folclore e da nossa cultura (Nico Fagundes era um deles, por exemplo). Lá por 83, o curso de Panambi foi meio revolucionário para a quebra desse paradigma e dessa prática de danças da qual vivíamos (ainda essa semana olhei as atas e os textos coreográficos divulgados pelo curso de Panambi, ministrado por Paixão Côrtes). Nesse momento se deram conta de que existia uma coreografia básica para balizar o que se devia dançar (o Manual de danças era escasso nesse momento aos Ctgs e grupos, pelo que eu saiba). A coreografia antes "inexistente" (da maneira como existe hoje) se tornou uma importância e tão relevante fonte de atuação, onde se tratou a tal quase como uma força-tarefa de resgate, passando a se cobrada de maneira rígida e constante, sempre batendo em cima dela, extremamente. Esse foi o início e o motivo da perpetuação da rigidez e do militarismo que vimos tanto nas décadas de 80 em nossas danças e fegarts, gerando uma harmonia extrema aos grupos e uma cobrança da coreografia quase a ponto de "risco de vida", pela importância que se tinha (e se tem). A coreografia é "a primeira linha" do caderno... O primeiro ponto... O erro inadmissível!



https://www.youtube.com/watch?v=DI4eayaymtg

A partir de 91 (fenart, seminários, cursos do Paixão, etc), a preocupação de alguns instrutores (talvez a frente de seus tempo ou ansiosos por novos aprendizados) geraram um segundo passo a ser dado, após a fixação da coreografia. Era a segunda linha do caderno! Se identificou que a "imagem" que devemos passar também devia de ser mais correta possível, e a uniformização afetava esse modo de apresentar o que éramos. Se registou isso em livro, e a Carta de Vacaria e seu livro detalhado, se tornaram um bíblia quase para esse novo caminho. A imagem que passamos a representar era mais individual, não grupal, mas personalizada... A pilcha era o cartão de visita! Cada integrante começou a se vestir como "gosta" e com peculiaridades que somente ele poderia defender (de corpo proprio, função, trabalho, época, etc). Esse foi um novo caminho. Isso se abraçou de tal maneira (proporcional a "tarefa" das coreografias, iniciada em 83) que virou a bandeira contrária do que antes tivemos: 83 a coreografia, a rigidez, a harmonia, a cobrança, a uniformização. E 92 a Indumentaria, a flexibilidade, a personalidade. Bandeiras hoje vistas como "contrárias" pelos caminhos e eventos que se geraram a partir de si. Porém... Acho se parou por ai e não se devia! Faltou um outro passo, do qual hoje não se avança, ou não se avança mais! Faltou a terceira linha do caderno e de repente o terceiro pé dessa trempe, dessa tríade que a dança deve de se ter: 92, pra mim, era para ser também a bandeira do gauchismo, do campeirismo, do modo de dançar solto, da personalidade individual na dança também!



Posso estar enganado do que notei dos aprendizados que tive, ou então tive uma visão diferente para caminhos iguais (da qual deve de ser diferente)... Porém ainda defendo minha bandeira e é ela que quero seguir, por minha história me mostrar e me ensinar ela, justamente. Palavras e frases como "dançar com espiritualidade", citada no livro da Carta de Vacaria (também visitado essa semana) ficam na minha cabeça mostrando de que meu caminho não está de todo errado, pois não creio numa desuniformização nas indumentárias se mantendo um modo de dançar rígido e extremamente harmônico, sem individualidade, preocupado com milímetros de passos e posicionamentos, sem a individualidade e os "defeitos" que cada dançarino tem e que deve de ter para ser os "belos" na dança! São coisas que não conversam, diferentes! Esse sim seria o terceiro passo, da qual se perdeu com o tempo e não se ultrapassou mais, justamente pelo signo do concurso. Um modo de dançar mais campeiro, recheado de gauchismo e de personalidade e espiritualidade, enche os olhos e encanta o público. Sem contar que brilha mais nos olhos de quem dança também! Dá vontade de dançar! Já uma apresentação extremamente harmônica, mecânica e rígida sempre facilita o instrutor e o avaliador, e até engana e tapa dançarinos inseguros, mas não ensina!



https://www.youtube.com/watch?v=DrmsQlxRT5c

De lambuja, um pequeno causo que me ensinou e muito e abriu meus olhos para isso que explico: em um rodeio de Flores da Cunha, 2004 ou 2005 acho, Seu Paixão avaliava (como sempre) e a dança era o anú. No meio do mesmo, em plena final de domingo do concorrido rodeio, o "posteiro" comanda o bate-palma, e um dançarino "desatendo", porém sempre bem apresentador dos nosso antepassados, com muito gauchismo, salta um cerra-e-trava na hora errada. E, em sua ligeireza, já emenda de vereda um bate-palma corrigindo o ato. Todos na dança olham de canto de olho preocupados, mas metem "balaka" para segurar a dança... E o Seu Paixão larga uma gargalhada e se encanta pelo ato. No fim do evento o grupo se sagra campeão, e para a surpresa de todo as notas do mesmo anú foram as notas máximas na planilha do Seu Paixão, de certo encantado mesmo, justamente pelo Gauchismo apresentado no "erro"! Esse ato me ensinou muito e me fez "reentender" o que os livros e os cursos relatavam, desde o livreto da Carta de Vacaria.



https://www.youtube.com/watch?v=gGyKlnZZvfQ

Acredito que a personalidade e o gauchismo, tanto citado (dos três tópicos citados nesse texto), para o Seu Paixão deve de ser o principal... Explicando suas frases de "danças com espiritualidade", "dançar com a cabeça", etc e etc. O próprio livro cita exageros "medíocres" (ele cita assim) de descontos de lencinho de bolso vir ao chão, ou do detalhe milimétrico do comprimento da saia de uma prenda, a exatidão harmônica e realização conjunta e igual de um giro de saudação, territorialidades transformadas em rígidas posições e distâncias entre pares e dançarinos, perfeições de alinhamentos, disciplinas militares na dança, dando maior ênfase a essas "minúcias" ao invés de um todo e de um CONTEÚDO... ESSA É A PALAVRA: conteúdo!... Perdendo nos grupos a explosão emocional humana e o bem dançar NATURAL (esta escrito assim)! Defendemos bandeiras que nem o Seu Paixão quer que defendamos... E isso foi criado e espalhado por nós! Há de se rever... E é isso que nos falta, pelo menos para mim que gosto de assistir e aplaudir os outros. paixão é quase que um profeta, posso dizer assim! Falta gauchismo e personalidade, sobra rigidez coreográfica e harmônica... Se fixou a coreografia, se desuniformizou, mas falta personalidade e ser realmente um homem do sul! Faltam apresentações que ensinam e sobram apresentações que resolvem o prêmio momentaneamente!

Acho que o terceiro passo ainda pode ser dado!
Acho que podemos ser gaúchos realmente...
...podemos não ser extremos!

Abraços sinceros!


-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-x-



"Não é um DEVER ser gaúcho:
é um PRIVILÉGIO ser gaúcho!"
João Carlos D´Ávila Paixão Côrtes

Nenhum comentário:

Postar um comentário