Por DIEGO MÜLLER

sábado, 11 de agosto de 2012

Dois em um...



Dois em um!
(Diego Müller)

O porque teu olhar claro
No meu olhar se prendeu?...
O porque que os mesmos olhos
Do meu olhar se perdeu?
O porque que o meu abraço
Os teus braços precisavam?...
Depois, os mesmos abraços,
Os teus braços dispensaram?

Sou assim mesmo, e não mudo...
– Bem tentei mudar por ti!...
Mas teu mundo gira estranho...
E, de mudar, não resisti!...
Teus caminhos diferentes...
O meu rumo decidido!...
– Muita reza nas palavras
Que só almejavam pedidos!

Você em mim... nada incomum!...
O que era dois restou só um!...
Dois rumos... Algo comum!...
– Ficou só eu!... Dois em um!!!

O porque teu beijo doce
Da minha boca provou?...
E o porque na mesma boca
Foi só o fel que sobrou?
O porque tua lembrança
Se aquerenciou em mim?...
E do porque os mesmos recuerdos
Só me desenham pra um fim?

Minha calmaria inquieta...
Tua inquietude altiva...
Meus trejeitos desandando...
E tuas cruzadas, tão vivas!...
– Mesmo em meio a tantas dores
Que te dizem tão ausente...
...Valeu tanto, pago a pena:
E tu, cada vez, mais presente!!!


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"...eu sei e voce sabe, já q a vida quis assim,
que nada nesse mundo levará vc de mim!"
(Vinícius de Moraes)

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Cismas...



Cismado
(Diego Müller)

Porque saudade, se esta estrada eu nem compreendo?...
– Dela só entendo que por diante me carrega!...
Saudade eu tenho, mas não tanto para as cismas
Que me destina a peça que só as curvas prega!

Porque das cismas, se estas mesmas sempre tive?...
E me contive pra não refletir aos sonhos!...
De novo, as mesmas... repetidas – passo-a-passo –
Onde eu repasso seus porquês num céu risonho!

Cada ansiedade, desenhando o úçltimo dia...
Cada alegria, relembrada nas esperas...
Cada quimera, pondo dor nas melodias...
– E minha poesia, insistindo em vir tapera!

E eu que tenho tanto cruzado
Por calejado não aprendi...
Os mesmos rumos – de olhar cismado –
Onde cimbrado não sei mentir!

Cismo e assumo – de olhar nublado –
No tanto alado que eu me senti...
E eu que tenho tanto penado,
Ainda cismado, só penso em ti!

Porque saudade, se já avisto outro reencontro?...
E nela eu conto, pra estas cismas terem fim!...
– Nunca terão, mas compreendo o que me ensinarem:
Se elas findarem, restará só um “não”... ou o “sim”!

Porque das cismas, e até sei eu elas viriam?...
E me trariam mais o intento de cruzar!...
– Se até duvido das estradas que eu desperto,
Melhor o incerto... do que por ti nem tentar!

Cada lembrança, que salta sem pedir senha...
Cada resenha, que pensei em você comigo...
Cada perigo, que por mais que eu me contenha,
Deixe que venha... pois cessar cismas, não consigo!


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"hoje eu sei,
só a mudança é permantente...
de repente
tudo está no seu lugar!"


Se, hoje, sou um cara despreparado para a vida pública, imaginem no início da minha jornada! Não precisam abafar o riso pois eu mesmo me divirto com esta falta de preparo.
Eram tempos anteriores à www. A cada lançamento, este morador da província passava um ou dois dias num escritório, na corte, dando entrevistas para veículos de todo o país. Constrangido de repetir sempre as mesmas respostas, ingenuamente eu tentava dar um tratamento personalizado a cada entrevista. Não se tratava de mentir, é claro; eu só tentava jogar luz em novos detalhes. E são inúmeros os detalhes quando se fala de criação. Tudo ali é detalhe.
Agora, façam as contas: num país com 27 unidades federativas, digamos que (fazendo uma média por baixo) eu falasse com 3 revistas/jornais de cada estado: são 71 entrevistas. Se a primeira delas fosse linear e objetiva e, a cada uma, eu viajasse um pouco, na septuagésima primeira eu teria viajado um bocado! Na geografia e nas ideias.

(*)

Quando a MTV estava preparando sua entrada no Brasil, testando formatos, fui convidado a participar de um programa piloto. Um teste que nunca foi ao ar. Era umping pong com o convidado encostado num muro, o paredón.
Eles ainda estavam tateando o ambiente. O clima na emissora ainda era mais pra anos 70 do que 80. E estávamos em 1990! A maioria das perguntas tinha um tom de transgressão que já me soava passado na época. Chavões sobre sexo, drogas, roquenrrou, etc... o de sempre: prato feito para jovens por cozinheiros de meia idade.
Uma das perguntas nunca saiu da minha cabeça: “você começa a fazer a barba sempre do mesmo lado?”. Acho que eles julgavam ser um bom atalho pra saber se um cara é metódico ou inquieto, burocrata ou criativo... Como se fossem atitudes excludentes. 

(*)

No seu melhor, a canção popular vive do balanço entre repetição e novidade. Balança nessa corda bamba. Anda no fio dessa navalha, tentando não cair no precipício do caos nem no abismo da previsibilidade.
Isto se dá na escala micro (nos poucos segundos de um compasso) e macro (nas décadas de uma carreira); na escolha das notas do solo e das canções do setlist. Está sempre presente a busca do mix certo, na esperança de que as duas asas batam em sincronia. 
(algo que evite qualquer relação com o passado faz tão pouco sentido quanto algo que só queira repetir o passado)

Se respirarmos fundo e nos distanciarmos um pouco pra sacar a perspectiva, vamos ver que é limitadíssimo o universo harmônico e rítmico da música popular. A magia está em descobrir novas formas de cozinhar estes ingredientes.
Há que se partir de um terreno comum para chegar a terrenos inexplorados. Como diz o ditado: não é possível disparar um canhão de uma canoa (a canoa iria pra traz tanto quanto a bala iria pra frente). É necessário uma base firme. Loucura e caretice podem ser bons temperos uma para a outra.

não ficaremos parados 
com a cabeça nas nuvens e os pés no cão

Bah 1: O técnico do meu time, acuado por uma pergunta numa entrevista coletiva, se saiu com esta: ”Você não vai me pegar, eu fiz midia trainning.”
Bah 2: O que se quer (numa coisa boba como o texto da semana ou numa coisa fundamental como o amor da nossa vida) é certeza e surpresa.

Humberto Gessinger
abraço
7ago2012


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"Nós estamos tão atarefados olhando com que está a nossa frente, que não temos tempo de aproveitar onde nós estamos!"
Calvin e Haroldo 
(Calvin y Hobbes)

Em ti...

Em ti...



Em ti...

(Diego Müller)


Olhei em ti – primavera – alva flor nos vendavais...
Algo de raiz estanque recaindo a um nunca mais!...
Sorrisos de encantar cenas, luzeiros em cada olhar...
– Mirada que prendeu sonhos que não querem regressar!

Mirei em ti – calmaria – rio manso que escorre ao léu...
Braços de buscar guarida, cabelos da cor do mel!...
Quimeras redesenhadas nos rumos de uma poesia...
– Rancho novo (quincha e barro) pros meus abrigos do “um dia”!

Busquei em ti – tempestades – vento e mormaços na pele...
Calor me aquecendo os rumos, por mais que o tempo enregele!...
Algo de buçal trançado sobre os descasos de potro...
– Um abraço que, espelhado, busca os braços de um outro!

Sonhei em ti – corredores – ganhar o mundo por conta...
Descobrir dentre as quimeras o que tua fala não conta!...
Cerca que repreende o longe, mas direciona meu prumo...
Um tanto de sombra mansa... aguada... e de novo ao rumo!

Vivi em ti – temporário – nas constâncias de um eterno...
Dure quanto durem os giros de um mundo que almejei terno!...
– Só almejei, pois calmarias não avistei nesse olhar...
Ando cismado por conta deste mundo a desvendar!

Perdi em ti – poço fundo – decaindo à escuridão...
Apertos – por desandado – nas brechas de um coração!...
– Vou estanque, aprisionado, no que me restou por diante!...
– E a dor me provou o contrário: temporário, não... constante!!!





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(Francisco Madero Marenco)

"A melhor maneira de começar um companheirismo
é com uma boa gargalhada...
De terminar com ela, também!"
Oscar Wilde

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Florcita...



Florcita de Manzanilla...

Yo tuve un día un amor, 
De esos que no se olvida, 
Algo así como una flor 
En el huerto de mi vida... 

Pero, al fin, se marchitó 
Esa flor en mi camino, 
Y me quedé sin color, 
Igual que un ave sin trino... 

Ahora sigo mi rumbo 
Buscando lo que perdí... 
La que aromaba mi mundo 
Ya ni se acuerda de mí... 

Florcita de Manzanilla, 
Yuyito del corazón... 
Aunque mi alma está herida, 
Aún te llevo en mi voz... 

Florcita de manzanilla, 
Yuyito del corazón... 
Siempre estarás en mi vida 
Como un recuerdo de sol... 

Yo tuve un día un amor, 
Tuve un hogar... ¡un ranchito! 
Pequeño para los dos, 
Pero, tal vez, infinito... 

Después se volvió tapera, 
Una más en el recuerdo... 
Un cuadro de primavera 
En una pared de invierno... 

Y aunque no vuelvas nunca, 
Y no seas más que un recuerdo, 
Tu nombre en mi vida alumbra 
Como mil soles de enero... 

(Diego Müller/Martim César)



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ANJINHO DE ASAS PODRES: 
O CARDEAL

A parcela do povo que tem um pouco de memoria e miolo, estranhou a forma como o cardeal Eugenio Sales foi retratado no velório pelas autoridades. Ele foi apresentado como um combatente contra a ditadura, que abriu os portões da residência episcopal para abrigar os perseguidos políticos. O prefeito Eduardo Paes, em campanha eleitoral, declarou que o cardeal "defendeu a liberdade e os direitos individuais". O governador Sérgio Cabral e até o presidente do Senado, José Sarney, insistiram no mesmo tema, apresentando dom Eugênio como o campeão "do respeito às pessoas e aos direitos humanos". 

Não foram só os políticos. O jornalista e acadêmico Luiz Paulo Horta escreveu que dom Eugênio chegou a abrigar no Rio "uma quantidade enorme de asilados políticos", calculada, por baixo, numa estimativa do Globo, em "mais de quatro mil pessoas perseguidas por regimes militares da América do Sul". Outro jornalista, José Casado, elevou o número para cinco mil. Ou seja, o cardeal era um agente duplo. Publicamente, apoiava a ditadura e, por baixo dos panos, na clandestinidade, ajudava quem lutava contra. Só faltou arranjarem um codinome para ele, denominado pelo papa Bento XVI como "o intrépido pastor". 

Seria possível acreditar nisso, se o jornal tivesse entrevistado um por cento das vítimas. Bastaria 50 perseguidos nos contarem como o cardeal com eles se solidarizou. No entanto, o jornal não dá o nome de uma só - umazinha - dessas cinco mil pessoas. Enquanto isto não acontecer, preferimos ficar com o corajoso depoimento de Hildegard Angel, cujo irmão Stuart, foi torturado e morto pelo Serviço de Inteligência da Aeronáutica. Sua mãe, a estilista Zuzu Angel, procurou o cardeal e bateu com a cara na porta do palácio episcopal. 

Segundo Hilde, dom Eugênio "fechou os olhos às maldades cometidas durante a ditadura, fechando seus ouvidos e os portões do Sumaré aos familiares dos jovens ditos "subversivos" que lá iam levar suas súplicas, como fez com minha mãe Zuzu Angel (e isso está documentado)". Ela acha surpreendente que os jornais queiram nos fazer acreditar "que ocorreu justo o contrário!".

Raul Elwanger - Gazeta dos tolos


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"La vida no tiene reglas, el precio es que está arreglado, nosotros lo hemos pagado con plata y con soledad... Mañana por la ventana nos borrará el amanecer, como si no fuera volver yo me iré como toda última vez!"
(Martím César)